Morrer de Amor.


“Meu mundo caiu!”, está frase interpretada pelo saudoso e eterno Jamelão; nunca saiu de moda, aliás está cada vez mais viva em nossa memória, aqui na Baker Street Investigações principalmente quando cuidamos de “casos’ conjugais. Diferente de outras oportunidades, hoje resolvi contar aos leitores e amigos, um caso atual; aconteceu em 2020, mais precisamente em setembro, quando a primavera bate às nossas portas aqui no Brasil e mais especificamente em São Paulo.

Evidentemente, como em todas às nossas histórias, nomes e locais foram trocados para preservar a identidade das pessoas envolvidas; contudo os fatos são verdadeiros e denotam a capacidade humana de explorar limites e as próprias consciências.

Vejo à necessidade de relembrar o momento social que atravessávamos visto que a primeira onda da Pandemia de Covid-19, começava a ser relaxada, ainda sem previsão de vacina e com a esperança de normalidade; todas as pessoas se utilizavam de máscaras de proteção e começavam a saírem de suas casas, vislumbrando uma nova rotina.

Vivíamos uma segunda feira típica de primavera paulistana, o sol começava a esquentar e nós na Baker Street iniciávamos mais uma semana de trabalho, quando por volta das 09 horas, recebemos uma ligação e um homem, em um estado muito aflito, pelo seu tom de voz, identificou-se com Roque e marcou uma consulta imediata, aqui em nosso escritório. Em posse dos seu contato, em uma breve busca, apurei que seu nome verdadeiro era Francisco, ele tinha 61 anos e possuía algumas empresas, casado com Viviane de 35 anos, e com dois filhos entre 12 e 15 anos. Residia em um bairro de classe média-alta na zona leste da cidade.

As 10:30 já estávamos preparados para recebê-lo, afinal nesta pandemia passamos a atender na área externa do nosso Condomínio, com todas as regras de segurança sanitária.

Toca o interfone e recebemos um homem bonito, atlético barba e cabelos grisalhos, trajava roupa elegante, óculos escuros e demonstrava severo abatimento de preocupação.

Indicamos o lugar e ele sentou-se, momento que minha assistente deixa o local, para facilitar a consulta, sozinhos ele começa a relatar seu problema:

- Pode me chama de Roque, sou empresário e casado há 15 anos com a Viviane, este é meu segundo casamento, ela trabalhava como minha secretária quando a conheci e foi amor à primeira vista, nos apaixonamos eu me separei e em alguns esses já estava casado. Conto isso, pois sinto que ela é a mulher da minha vida, não poderei viver sem ela, mas sinto que com tudo isso que está acontecendo, nós estamos cada vez mais distantes, e preciso saber se ela está me traindo – momento em que ele, se descompõe e é tomado por forte emoção, segurando o rosto e deixando-se cair na cadeira que o amparava.

Procuramos o amparar, e pedir que se acalmasse, pois iriamos descobrir o que estava acontecendo com a sua esposa, afirmamos que ele precisaria ser “forte” para uma vez iniciada a investigação não colocar todo o trabalho a perder sem termos descoberto tudo o que ocorria.

Prosseguindo ele narrou que no último sábado, 48 horas antes, ela simplesmente pegou duas malas e saiu de casa, não atendeu mais o celular e levou o carro, fez um saque no valor de R$ 2.000 (limite da conta para o sábado); observou ainda que ela se despediu das crianças e disse para elas, que iria passar uns dias viajando sem maiores detalhes.

Ao chegar do trabalho no sábado, ele não a encontrou mais; ela não atendeu mais o telefone e sequer ligou para obter notícias das crianças.

Esclareceu que a Viviane, nunca teve família, disse que era órfã e filha única, aos 20 anos vivia sozinha quando conheceu Roque, e pela sua dedicação nunca contestou tal informação.

Finalizamos a contratação e imediatamente iniciamos a investigação do caso.

Iniciamos pelos antecedentes da Viviane, e imediatamente chegamos a uma mulher que tinha família vivendo no litoral paulista, mas precisamente na cidade de Itanhaém SP; entre seus 18 e 20 anos, foi casada e separou-se do seu ex-marido chamado Miguel(que segundo nossas investigações) residia junto com a mãe da Viviane e mais duas crianças de 7 e 9 anos na cidade praiana.

Informamos imediatamente ao Roque, e rogamos nos aguardasse as notícias, teríamos de deslocar ao litoral paulista e apurar se a Viviane estaria “visitando” à sua família e em que condições.

Chegamos ao litoral, mais precisamente as 20:00 da quarta feira, apenas 48 horas após iniciarmos o caso e fomos diretamente para o endereço apurado da Helenita (mãe da Viviane), uma casa térrea há poucas quadras da praia, um padrão normal de um bairro próximo ao centro de Itanhaém.

Estava acompanhado da minha assistente Miriam, e imediatamente reconhecemos o carro da Viviane, estacionado na porta da casa, tratava-se de um carro de luxo que figurava em nome do nosso cliente, que nos autorizou a “grudarmos” um rastreador portátil no veículo, assim saberíamos com exatidão cada local que a Viviane fosse.

Poderíamos simplesmente acionar o Roque para ir até a casa e tirar a limpo a sua situação, contudo no íntimo, ainda precisamos saber o que levou a Viviane a abandonar a sua casa e sem dizer nada esconder do seu marido e dos filhos todo o seu passado.

Havia na casa, uma “placa” oferecendo produtos de perfumaria com venda direta, assim elaboramos um plano de contatar as pessoas da casa na manhã seguinte, contudo algumas coisas ainda precisamos descobrir mais informações do ex-marido e da Helenita.

Fomos para um Hotel e solicitamos ao nosso assistente, que realizasse uma minuciosa pesquisa de antecedentes criminais do Miguel (ex-marido) e da Helenita. Algumas horas depois tivemos a certeza de que tanto Miguel, quanto Helenita não possuíam nenhum histórico criminal e sequer dívidas comerciais, viviam em um relacionamento estável e para a nossa surpresa, as duas crianças eram filhos legítimos do casal.

Na manhã seguinte, uma quinta feira ensolarada em Itanhaém, saímos do hotel e fomos em direção à casa de Helenita, lá chegando minha assistente tocou a campainha e Viviane atendeu, ela perguntou sobre a Helenita e disse que gostaria de comprar alguns produtos, no momento que ela começou a chorar e disse que a Helenita e o Miguel estavam internados no hospital da cidade com COVID-19; e ela estava só com as crianças. Miriam se disse muito amiga da mãe dela e ela desabafou confidenciando que há cerca de 20 anos conheceu o nosso cliente Roque e se apaixonou por ele, deixou o marido e a mãe e veio morar em São Paulo, com seu novo amor; e pela separação dar-se muito repentina simplesmente nunca mais voltou, e acompanhou de longe que sua mãe e seu ex-marido de casaram e tiveram dois filhos.

Foi contatada na última sexta-feira, por amigos comuns e soube da necessidade de “cuidar” das crianças e simplesmente foi para lá, claro que corroída pela culpa do abandono da família.

Como todos bons detetives, gravamos toda a conversa que retratava com maestria toda a situação que ela enfrentava.

Retornamos para São Paulo, e imediatamente nos reunimos com o Roque em nosso escritório, passamos a ele toda nossa investigação e todo o desabafo da Viviane, ele compreendeu a situação e disse que iria vê-la ainda neste dia, e lhe apoiaria em todas às suas necessidades.

Este caso, retrata uma verdade eterna, que Conan Doyle assim definiu:

"No momento, nosso mundo de humanos é baseado no sofrimento e na destruição de milhões de não-humanos. Aperceber-se disso e fazer algo para mudar essa situação por meios pessoais e públicos, requer uma mudança de percepção, equivalente a uma conversão religiosa. Nada poderá jamais ser visto da mesma maneira, pois uma vez reconhecido o terror e a dor de outras espécies, você irá, a menos que resista à conversão, ter consciência das permutações de sofrimento interminável em que se apoia à nossa sociedade."

FIM ...

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