26 - UM CASO MAIS ATUAL DO QUE NUNCA.
26 - UM CASO MAIS ATUAL DO QUE NUNCA.
Dentre os vários casos que se apresentam em nossa agência, tomo
a liberdade de citar, mais um, que com certeza servira de alerta aos nossos
leitores e amigos; que reconhecendo poderão alertar a outras pessoas para que
não se tornem vítimas destes malfeitores que se utilizam do anonimato e da
carência afetiva das pessoas para subtraírem-lhes bens muito maiores; daqueles
que se podem contar. Assim vamos ao caso:
Manhã de segunda-feira em nosso escritório da Baker Street,
alguns casos em análise quando toca o telefone, atendi:
-Baker Street bom dia!
-Bom dia e da agência de Detetive? - Indaga uma voz feminina
demonstrando fragilidade e aflição.
-Sim em que podemos ajudá-la? – Prossegui.
-Chamo-me Rosa e fui vítima de um crime de internet, quero saber
se vocês investigam crimes desta natureza?
-Sim senhora procedemos investigações particulares de natureza
criminal em que posso ajudá-la?
-Estou desesperada e preciso muito de suas orientações, em
virtude dos acontecimentos tenho muita urgência de suas orientações; vocês
poderiam me atender com urgência?
Mesmo sem agenda e com muitos casos em andamento; imediatamente
fomos tocados pela aflição da cliente e optamos por recebê-la em nosso
escritório dentro de uma hora.
As 11:00hs em ponto o interfone anuncia a chegada da nossa
desesperada cliente.
Abre-se a porta e adentra ao nosso escritório, uma mulher
aparentando cinquenta anos, descendência oriental trajada com roupas elegantes
e acessórios caros, porem de forma desleixada e demonstrando muito cansaço e
abatimento, após as apresentações pedimos que se sentasse na cadeira a frente
da nossa mesa o que fez imediatamente deixando o corpo cair sob a cadeira, após
servirmos um café ela se refez e iniciou a narrativa dos acontecimentos:
-Meu nome e Rosa tenho 52 anos, sou viúva há 10 anos e possuo
uma pequena Empresa de Cosméticos aqui no bairro da Mooca, tenho dois filhos já
crescidos, um rapaz de 34 anos já casado e uma menina de 25 que trabalha e
reside comigo; ao falar da sua vida pessoal imediatamente começou a chorar e
instantes depois prosseguiu em sua narrativa.
-Sou uma pessoa caseira, após a morte do meu marido acabei por
me fechar para a vida e para relacionamentos tornando-me uma pessoa muito
solitária, minha vida passou a ser de casa para o trabalho e do trabalho para
casa, perdi a alegria e a vontade de viver isolando-me em meu mundo, assim
passei a frequentar sites da internet para pessoas sozinhas e sem coragem de
criar um relacionamento real, passava sete, oito horas por dia conversando e me
relacionando virtualmente com inúmeras pessoas, fiz muitos amigos até que há
quatro meses atrás conheci uma mulher de nome Raquel que tem 22anos e logo
ficamos muito amigas, amigas virtuais ela me apresentou seu namorado de nome
Ricardo um rapaz de 25 anos, também empresário do ramo de Agronegócio da região
de Ribeirão Preto, no início a Raquel me contava do seu relacionamento e
desabafava inúmeras vezes comigo inclusive que relatando que por vezes trairá o
Ricardo com outros amigos e que ele acabou por descobrir e terminara seu
relacionamento, com isso minha ligação com o Ricardo passou a ser intensa e
constante, passamos a namorar virtualmente e trocamos inclusive juras de amor,
ele jurava amor eterno e chegou a me pedir em casamento!
Interrompemos sua narrativa questionando se o Ricardo em algum
momento havia lhe pedido dinheiro ou bens, e ela esclareceu:
-Não! De jeito algum, o Ricardo dizia-se fazendeiro e muito rico
queria apenas me conhecer e ficar comigo!
-Em algum momento vocês se conheceram pessoalmente ou falaram ao
telefone?
-Não! Apenas por foto, ele dizia que saia recentemente do
relacionamento com Raquel e eu também não sentia coragem em insistir.
Pedimos e ela prosseguiu com a narrativa:
-Ele me apresentou um outro amigo virtual de nome John, seu
primo de 40 anos, que também passou a conversar muito comigo virtualmente e
confirmou tudo o que Ricardo havia me dito; inclusive a sua vontade de vir para
São Paulo me conhecer.
Quando enfim nesta última semana no feriado de quarta-feira o
Ricardo marcou de vir aqui em minha casa para me conhecer, só que ele sairia de
Ribeirão Preto – SP; na Terça feira a tarde após o trabalho, marcamos de nos falarmos
via internet antes dele sair e nesta conversa ele dizia estar muito triste e
desapontado pois seu carro, um Mercedes de luxo havia quebrado uma peça e está
demoraria quase um mês para chegar e ele só poderia vir se alugasse um carro lá
em Ribeirão Preto, mais sua secretaria havia saído mais cedo e ele não possuía
o número do seu cartão de credito para consumar a referida locação.
Insisti que ele utilizasse meu cartão de credito para alugar o
carro, no início ele disse que não aceitaria de jeito nenhum e que não era
correto, mais eu insisti e ele disse que seria só como garantia, aí sim eu
passei o número e a senha de segurança para que ele o utilizasse lá em Ribeirão
Preto.
Ele me disse que estava tudo certo e ele saiu de lá por volta
das cinco da tarde com a previsão de chegar as dez ou onze da noite.
Porém dez, onze, meia-noite e nada dele chegar quando por volta
da uma da manhã encontro John na internet que me diz que o Ricardo havia
sofrido um acidente de carro muito grave na estrada, seus familiares estavam
desolados e que a Raquel havia ido ao hospital e me ligaria de lá para me dar
notícias, foi então que passei meu celular a ele, pois fiquei desesperada.
Por volta das duas da madrugada a Raquel me ligou e disse eles
estavam em um hospital e o Ricardo necessitava de um procedimento de urgência e
ela estava sozinha com ele e precisaria do valor de R$3 mil reais naquele
momento para as primeiras providencias e se eu podia transferir este valor para
a conta dela emprestado, uma vez que eu era a responsável pelo terrível
acidente.
Fui tomada pelo desespero pedi a ela o endereço do hospital, mas
ela me culpava pelo ocorrido e só me daria o endereço após eu efetivar a
transferência dos fundos, desesperada eu transferi o valor para a conta
indicada e aguardei notícias.
Somente na quarta-feira à tarde voltei a encontrar o John na
internet que me disse que o Ricardo havia falecido, pedi auxílio a meus filhos
que me ajudaram a procurar todos os hospitais, delegacias e IML da região e
nenhum registro de acidente envolvendo alguém com suas características.
Passei muito mal e fui hospitalizada obtendo alta apenas nesta
noite de domingo e aqui estou, preciso muito que me ajude!
Aceitamos o seu caso, realizados os procedimentos de contratação,
iniciamos às investigações.
Iniciamos investigando os telefones fornecidos, bem como os
perfis das redes sociais e os números de telefones vinculados.
Com as nossas ferramentas tecnológicas, números de telefone e
apuramos que Ricardo, John e Raquel, nunca existiram e eram apenas personagens
criados por um cruel estelionatário chamado Manoel Medeiros que possuía uma
extensa ficha criminal e que residia em uma casa no centro de São Paulo, mais
precisamente no bairro do Bixiga.
Fomos informalmente até o endereço apurado, não envolvemos o
aparato policial, pois a nossa cliente havia deixado claro que não queria
providências policiais, apenas desejaria saber a verdade dos fatos.
Chegamos na parte da tarde, a uma casa assobradada composta de
diversos quartos com banheiro coletivo nos corredores, era o que chamamos de
cortiços modernos, tocamos na campainha de número 3, uma voz rouca nos recebeu
e o informamos que tínhamos uma entrega de produto eletrônico comprado pela
internet, desceu e abriu a porta o próprio Manoel, um rapaz nordestino com 30 e
poucos anos, de bermuda e camiseta, ele tentou desconversar e fugir, tratamos
de assegurar que não havíamos ido até ele para prendê-lo e sim para comprovar
as nossas suspeitas e demonstrar à nossa cliente o ocorrido.
Manoel nos convidou a subir para o seu quarto, ligamos para a
nossa cliente e pedimos que ela fosse ao computador, o próprio malfeitor a
chamou e começou a contar toda a verdade, assumiu um a um seus personagens e
foi elucidando cada fato da sua armação, às 2 horas e pouco que passamos ali
nos serviram de uma aula, de como estes malfeitores se utilizam das pessoas
para os seus golpes, ele falava com pelo menos 2 a 5 pessoas de cada vez, para
cada golpe ele utilizava fotos, fatos e localizações diversas, possuía mapas e
anotações em quadros diagnósticos de trabalho.
Praticava golpes em pessoas e cartões de crédito através de
compras falsas e autorizadas, concluímos que estávamos diante de um rapaz com o
ensino médio completo, mas muito inteligente e que se utilizava de técnicas
psicológicas que obviamente nunca aprendera em bancos escolares.
Nossa cliente, que preferiu depois de saber a verdade, por
absolver o prejuízo financeiro sem, contudo, superar a ferida emocional causada
em seu coração.
Concluímos assim, que estes Maneis praticam o mais vil dos
crimes contra a pessoa, que é o de abusar da carência emocional das pessoas.
Ficamos imaginando se este rapaz, utilizasse toda está sabedoria
para coisas do bem, tenho certeza de que seria brilhante, enquanto isso só nos
resta esperar que o tempo e a Justiça possam se encarregar do Manoel.
Todas as vezes que entregarmos nossa vida, nossos sonhos e
nossos destinos nas mãos de outras pessoas, sejam elas reais ou pura invenção
dos nossos corações, estaremos fadados ao desequilíbrio e ao desespero.
Esperamos com este relato abrir os olhos dos amigos e leitores a
mais este golpe virtual.
FIM.
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