1 -UMA HISTÓRIA REAL ...SOBRE A MALDADE HUMANA.




1 -UMA HISTÓRIA REAL ...SOBRE A MALDADE HUMANA.

Amigos e leitores, a história que contaremos a seguir é real, muito triste e cruel, mas de toda história triste resta-nos lindas lições, advirto aos leitores e amigos que está história é recente, tem apenas alguns anos, o seu local, nomes e datas foram trocados, pois o que nos motiva ao escrever é justamente que o leitor adentre nas profundezas do caráter humano, e saiba que nada ficará oculto, tudo pode e será descoberto ao seu tempo.
Vamos à história.
Estávamos em janeiro de 2018, o verão paulistano chegava forte, a temperatura batia os 30 graus, recordo-me ser uma segunda feira, trabalhávamos normalmente na Baker Street.
Quando, como sempre, toca o telefone e do outro lado da linha:
-Bom dia, aqui quem fala é Jully, gostaria de saber um pouco mais dos seus trabalhos. - Uma voz feminina e que demonstrava muita agonia e aflição.
-Bom dia, atendi deste lado, me apresentando e contei um pouco da nossa apresentação e dos nossos trabalhos.
Ela em seguida relatou-nos o que desejava, disse que tinha 30 anos, e tinha muita vontade de descobrir sua mãe biológica, se tinha família e o porquê de ter sido abandonada ainda bebê, com poucos meses de vida.
Contei a ela que para nós, aqui na Baker Street, cada caso é único e especial e necessitávamos saber todos os detalhes do seu caso para sabermos com certeza se era possível localizar a sua mãe e familiares biológicos, ela então marcou uma reunião em nosso escritório para o dia seguinte.
Marcamos as 19 horas em nosso escritório, minutos antes em companhia da minha assistente Miriam, conversávamos sobre adoção, procedimentos e motivos que levariam uma mãe, tomar a atitude extrema de abandonar seu bebê após o parto, instante que toca o interfone e pedimos aos clientes que subam ao escritório.
A porta abre e adentram ao escritório um casal, ela branca, cabelos negros e olhos azuis, demonstrando descendência europeia, era a nossa cliente, se fazia acompanhar pelo seu marido um rapaz jovem da mesma idade, muito educado e claramente se dispondo a auxiliar à esposa, em um momento que ele sabia ser de vital importância.
Após as apresentações, tomamos nossos lugares na sala de reunião e pedi a ela que tomasse a palavra e discorresse sobre seu problema:
- Eu me chamo Jully, e desejo conhecer minha mãe biológica, fui adotada, quando tinha apenas meses de vida, cresci rodeada de muito amor e carinho pelos meus pais adotivos, mas por algum motivo eles ficam muito inseguros quando levanto este assunto, já tentei de todas as formas possíveis, mas não cheguei a lugar nenhum, por isso resolvi buscar ajuda profissional.
- E o que sabe nos dizer, sobre sua mãe biológica? – perguntei.
- Esse é o problema, eu não sei muita coisa, sei apenas que nasci em um hospital chamado Santa Casa de São Paulo, no dia 10/01/1987, e segundo apurei, meu nome era “Freya” (nome originário da mitologia grega que significa “senhora”; “deusa do amor”)e minha mãe possuía o prenome Cintia. Sei que não é muito, mas vou lhe confidenciar que antes de encontra-lo fizemos uma grande busca em outras agências de detetives particulares e ficamos muito desanimados pois disseram-me que só com isso jamais iríamos encontra-la, era muito pouco, inclusive um deles debochou dizendo que para localiza-la precisaria utilizar à sua máquina do tempo, isso me deixou muito magoada, mas enfim, o que o senhor me diz ? – disse ela.
- Lamento muito ouvir isso, lhe digo que é possível sim, cada caso é um caso, uma vida é uma história, que só saberíamos onde chegar, depois que começar, inúmeras seriam as tentativas, não prometeríamos sucesso, contudo prometemos investigar, é isso que fazemos, somos detetives particulares e como todo bom brasileiro não desistimos nunca.
Ao ouvirmos esta colocação sobre os outros detetives consultados, confesso que o ocorrido nos trouxe inspiração, não era só mais um caso que nos possibilitaria mostrar, não ao mundo, em busca de fama e reconhecimento, isto em nossa profissão, como na vida real é muito raro, mas nos possibilitaria mostrar à nós mesmos o nosso valor, o diferencial do nosso trabalho, diria até o diferencial de um trabalho realizado com amor e paixão.
Assim aceitamos o caso, explicamos que não seria um caso fácil e nem rápido, formalizamos o devido contrato e iniciamos o trabalho.
A princípio, nossos leitores podem estar perguntando, por que a Jully simplesmente não pergunta e exige saber a verdade dos acontecimentos de seus pais adotivos? Houve um processo de adoção judicial, quando data e versa a sua certidão de nascimento?
Esclareço, pois estas duvidas também nos assolaram em primeiro momento, ela nos relatou que a sua certidão de nascimento foi expedida quase 3 anos depois, isso para nós podia implicar em fraude na adoção, porquê demorar 3 anos um processo de adoção para liberar o registro de nascimento, quanto aos esclarecimentos, seus pais adotivos sempre desviavam o assunto e sua mãe chegava a se entristecer e até chorar quando indagada e a nossa cliente então optou por descobrir sozinha.
No dia seguinte, era uma quarta-feira paulistana, e optamos eu e minha assistente a irmos ao Hospital da Santa Casa e ver o que descobríamos no setor de registros da maternidade, fomos de roupas claras, para não destoar das outras pessoas e profissionais que nos atenderiam, esse é um detalhe importante, toda vez que o atendente de um Hospital ,mesmo que seja do setor de cadastro enxerga uma pessoa comum, trajada como um colega do dia a dia, ele tende a vê-la com mais simpatia e assim foi feito.
Passamos antes num restaurante próximo e encomendamos uma clássica feijoada (na pior das hipóteses já teríamos o nosso almoço)e com ela em mãos fomos até o setor de cadastros da maternidade, ao falar com a atendente me apresentei como fisioterapeuta e mostrando um crachá similar ao dos funcionários regulares (eu mesmo fiz) e apresentei a minha assistente como médica da cidade de Salvado BA, que estava aqui para uma palestra médica (inclusive havia uma naquela data no hospital), apoiamos a feijoada no balcão e começamos a entabular uma conversa, pelas características da nossa receptora percebemos que nos seria mais útil que a Miriam conversasse com ela e perguntasse do hospital como funcionava e como eram os registros, ao mesmo tempo que simulei uma conversa ao celular, como se conversasse com um conhecido diretor do hospital, enquanto isso a Miriam se enturmava com a Jucélia a nossa atendente, e perguntou a ela se ela já havia almoçado e diante da negativa da atendente acabou por oferecer a “feijoda” que a Jucelia aceitou prontamente.
No instante em que eu retornei ao balcão, disse que se ela lembrava da Lourdes que trabalhávamos juntos e ela ainda buscava as informações sobre a filha da amiga que havia nascido naquele hospital e assim perguntamos à nossa nova amiga se ela poderia ver nos registros, ela disse que não podia, que não lhe era lícito, contudo como éramos colegas ela iria ao setor, visto que os registros daquela data não estavam digitalizados, mas ela checaria e já nos informaria.
Cerca de 15 minutos depois, ela retorna com a informação que na data de 10/01/1987 Cyntia Fernandes de Souza deu á luz à Freya de Souza Silva, e que não ficou registrado nada que saísse da rotina normal.
Sabedores desta informação, saímos e voltamos à Baker Street, pois com o que apuramos à localização da mãe já seria possível.
Vasculhamos os registros públicos e para a nossa surpresa, descobrimos que tanto Cyntia quanto Freya, estavam vivas e residiam com o restante da família na cidade de Londrina que fica no interior do Paraná, em minuciosas buscas nas redes sociais, descobrimos as fotos delas e do restante da família, que era composta pela Cyntia, sua mãe Olga e suas duas irmãs, Nancy e Léia que eram dois e quatro anos mais velhas respectivamente.
Descobrimos ainda que Cyntia havia se separado do marido, e residia com a mãe Olga, sua filha Freya, seu genro Alex e seus netos Paulo e Luiz.
Assim percebemos que Jully, não podia ser Freya, e porque o registro do referido Hospital ser tão exato, em uma busca em redes sociais, percebemos uma certa semelhança entre Jully e todas as filhas de Cyntia.
Chamamos nossa cliente para expor as informações que obtivemos e que em nossa visão, teríamos de diligenciar até a cidade de Londrina PR, para ver o que descobriríamos da família de Cyntia.
Neste caso, confesso que não tínhamos outra opção, a não ser ir até a família e nos identificarmos como “detetives” e preservando a identidade da nossa cliente apurar o que teria acontecido em 1987.
Em um sábado, sem qualquer aviso, chegamos à cidade de Londrina e fomos direto para a casa de Freya, conversaríamos diretamente, sem tempo para subterfúgios e conversando com a família descobriríamos a verdade.
Chegando ao endereço da residência, deparamos com uma casa bonita e de classe média, sem luxo, mas bem arrumada e apresentada, em posse das fotos de todos os moradores e envolvidos, está pesquisa é sempre importante, pois assim reconhecendo as pessoas saberíamos com quem falar.
Tocamos a campainha, e o Alex (marido de Freya), atendeu a porta, observo que fizemos questão de parar nosso carro na porta, em casos assim o carro utilizado é importante para a primeira impressão, pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso da entrevista.
Nos identificamos como detetives particulares, e pedimos para falar com a Freya, ele nos convidou a entrar e ligou para a esposa, alguns minutos depois ela chegou em companhia da avó e das suas irmãs, sendo uma acompanhada do marido, observou que a sua mãe Cyntia estava viajando com o namorado.
Todos juntos, nos reunimos na sala e tomei a palavra e expliquei a situação com detalhes, com certeza todos estranharam muito os acontecimentos, Freya nos garantiu que nasceu em outra data cerca de seis meses antes, na cidade de Londrina e nos disse que sua mãe, nunca havia morado e São Paulo, e sua avó Olga, aliás uma senhora muito simpática, nos relatou que Cyntia sempre morou com ela, e ficou gravida somente pelas 3 filhas, e que com certeza nunca havia dado a luz em São Paulo, contudo no desenrolar da conversa nos disse que seu genro e pai das meninas chamado Carlos Alberto, que há cerca de 7 anos, havia se separado de Cyntia, e hoje constituirá outra família e que residia em uma cidade vizinha, com esposa e filhos pequenos, e segundo ela nos relatou: - Esse sempre foi malandro, nunca gostou de trabalhar, enquanto casado viveu às custas da minha filha, que sempre trabalhou e da nossa família, sempre traiu minha filha que culminou com o termino do casamento deles há anos atrás.
Conversamos muito, naquela manhã e pudemos observar que se tratava de uma família muito unida e todos eles sem exceção eram pessoas boas, ficaram surpresos com a revelação, e se dispuseram a conversar com a nossa cliente e com o pai delas o Carlos Alberto e tentarem conseguir mais informações, os contatos foram trocados, agora só dependeríamos da sinceridade da família, por fim esclarecer o que de fato havia ocorrido.
Mas, sempre existe um mas, como detetives estamos sempre preparados para esclarecer os fatos, custe o que custar, então já ciente disso, ao sair da casa, nos despedimos e paramos por instantes ao lado da lixeira, apanhamos um pequeno saco de lixo, e saímos em seguida, saibam leitores que o lixo, em certos casos falam muito das pessoas, paramos mais a frente e selecionamos um arranjo de cabelo, com fios da mesma coloração da Freya, separamos para se a cliente precisasse, com certeza teria margem para um exame de DNA.
Retornamos e concluímos desta viagem que nossa cliente nasceu na data e no referido Hospital, mas alguém se utilizou dos documentos da Cyntia e da filha Freya para, passando-se por elas dar à luz a Jully naquela data, no Hospital da Santa Casa, observamos ainda que na década de 1990, estelionatários utilizam-se de documentos falsificados, ou seja, alguém em posse da certidão original de Freya trocou a data de nascimento, utilizou-se também dos documentos de Cyntia para que o referido parto fosse consumado na Maternidade e o bebê pudesse ter alta sem deixar rastros.
Passamos nossas conclusões para a nossa cliente e ainda a orientamos a estreitar relações com as filhas de Cyntia, que se mostraram, à princípio, abertas ao diálogo e nos auxiliarem para descobrirmos a inteira verdade.
O tempo passou, e em questão de vinte dias depois, nossa cliente nos procurou e relatou que Freya, que antes se mostrava disposta a descobrir os acontecimentos, agora recuara e sequer à atendia, passou então a falar mais com Nancy, sua irmã que sempre acompanhada do marido Luiz se dispôs ajudar e falar com o pai o Sr Carlos Alberto.
Como no transcorrer dos dias, nada mais foi dito, resolvemos indagar a nossa cliente, sobre ao acontecimento aqui de São Paulo que envolveram à sua adoção, neste instante já sabíamos o que havia ocorrido para ela sair do hospital na referida data.
Jully descobriu, em suas lembranças o nome de uma senhora que havia sido a pessoa que a trouxe e a indicou para o adoção; ela se chamava Julia e seu nome era uma homenagem dos seus pais adotivos a esta senhora, ela possuía um  número telefônico que datava de quase 30 anos, e nos passou, recomendando que tivéssemos muito cuidado na entrevista uma vez que ela não sabia da maneira que transcorreu seu processo de adoção e qualquer coisa que descobríssemos ficaria somente entre nós.
Viemos a localizar a Sra Júlia, agora com quase 90 anos e residindo em uma casa de repouso no bairro dos Jardins, aqui em São Paulo, assim marcamos uma visita para às 15 horas de uma quarta feira, que narramos a seguir:
Eram 15 horas e chegamos ao endereço fornecido, uma casa assobradada no bairro dos Jardins, uma casa muito grande, bonita e bem ajeitada, portas largas e uma pequena recepção bem na entrada, nos identificamos para a recepcionista que nos acompanhou para um jardim e inverno, onde uma senhora morena, magrinha nos aguardava para nossa conversa.
Nos identificamos e perguntamos se ela se lembrava de Jully, ela afirmou que sim com a cabeça, descortinou um belo sorriso e narrou a seguinte história:
- Eu me chamo Júlia, sou viúva e mãe de 6 filhos, hoje conto com 90 primaveras – sorriu generosamente – e da Julia, ah está menina, como eu poderia esquecer, isso aconteceu por volta do fim dos anos noventa, acho que em 1987.
Eu acabara de sair de uma tristeza muito grande, quando Deus decidiu levar minha filha mais velha a Vera, para iluminar o céu, ah meu filho me lembro como se fosse hoje, ela ficou muito doente e desencarnou, passei por uma tristeza muito grande, pensei até em ir com ela, acabar com a minha vida, acredite no fundo da minha maior tristeza, conheci uma senhora chamada Leonor, ela era Espirita meu filho, e me levou no centro que ela frequentava, e me deram uma cartinha da minha Vera, acredita nisso filho ?
- Prosseguindo... – disse, sem antes a Miriam com lágrimas nos olhos me cutucar por debaixo da mesa.
-Então, minha Vera me tranquiliza na cartinha e diz que eu teria de reagir, que eu procurasse ajudar às pessoas, que transformasse cada lágrima de saudades dela, em ação para pessoas desamparadas e ajudasse cada vez mais o próximo e que certamente um dia, cada pessoas ajudada se tornaria meu advogado de defesa junto ao tribunal da minha consciência.
E foi isso exatamente que eu procurei fazer, na manhã seguinte me reuni com Leonor e fomos para um orfanato chamado Luz do Amanhã, era uma casinha muito simples, chão de terra batida, onde residia dona Norma, uma senhora de idade avançada que cuidava de 23 crianças, e segundo a Leonor, que possuía uma amigo chamado Nelson, que na época era promotor de justiça e atuava na vara de família, e segredou a ela que se está casa não fosse reformada nos próximos dias, corria um sério risco de ter de fechar as portas para sempre, e as crianças todas seriam relocadas para outras instituições.
Eu meu filho, nunca tive muito dinheiro, sempre trabalhei, mesmo que na época me encontrasse aposentada, tinha minhas posses, graças a Deus nunca nada me havia faltado e decidi, junto com a Norma e a Leonor encabeçar um movimento para juntas reformar aquela casa e dar as devidas condições de prosseguirem no trabalho de cuidar e assistir aquelas crianças.
- Mas Julia, o que tem isso haver com a Jully? – perguntei
Ela educadamente bateu em minha cabeça, sorriu e disse:
- Calma, eu chego lá, não estou caduca não, é que preciso explicar tudo direitinho para que entenda o “milagre da vida”, calma e prosseguiu.
Havíamos reformado toda a casa, levamos quase um mês e minhas visitas tornaram-se diárias, me lembro bem, era uma quarta-feira, cheguei lá e a Norma, veio me receber com certa aflição e me confidenciou que uma moça, muito bonita, havia estado lá pela manhã e rogado ajuda para que cuidássemos de sua filha que possuía apenas alguns dias de vida, uma menina muito pequena, desnutrida e com doença de pele, ela a trouxe aqui em uma bacia, sim uma pequena bacia de plástico e pediu que cuidássemos dela apenas algumas horas que ela iria receber um dinheiro em seu trabalho e retornaria para pegá-la a tarde, nós já passávamos das 20 horas e nada da mãe dela retornar, ela não sabia o que fazer, e aflita pediu minha opinião.
Ao ver aquela pequena e indefesa menina, quase sem roupas e enrolada em pequenos trapos, chorando muito, não pensei duas vezes, chamamos imediatamente nosso pediatra e providenciamos um bom banho de roupas limpas, meu filho nem consigo lhe dizer a emoção que tive ao dar o primeiro banho na criança, juro que era como se toda a cozinha do orfanato se transformasse em luz, e o sorrisinho dela de alegria e satisfação; mas nem tudo são flores nesta história, o pediatra me segredou que o estado de saúde dela era muito frágil, e ela corria risco de vida, o certo seria leva-la ao hospital mais próximo, contudo pelo estado dela, com certeza chamariam à polícia e nos afastariam imediatamente dela, ele receitou vários remédios e nos orientou como aplica-los, neste instante, meu filho não tive a menor dúvida ou receio, a levei para minha casa e coloquei o berço ao lado da minha cama, foram pelo menos dez dias de muito zelo e cuidado.
Foi ao final do décimo dia, que minha irmã me apresentou dona Lucia, uma vizinha da casa da frente, que havia perdido um filho, há poucos dias, porventura de um aborto espontâneo, e ainda possuía todo o enxoval e desejaria muito adotar está menina, tratava-se de um família muito boa, gente de bem mesmo, então resolvi que elas seriam muito felizes, mesmo porquê com a minha idade tinha receio de não durar muito, né meu filho sabe como é ?
- Não sei não, brinquei – depois de algumas risadas ela prosseguiu.
Precisávamos ainda, encontrar a verdadeira mãe do bebê, pois o telefone que ela deixará no orfanato, não existia, então consultamos o amigo promotor de justiça da Norma o seu Nelson , que preparou a papelada de recusa da guarda da criança, mas que indubitavelmente deveria ser assinada pela mãe, que a princípio se apresentara como Cyntia.
Seu Nelson, descobriu que o número do telefone fornecido era de um telefone público, instalado em uma farmácia na Avenida São João quase na esquina da Rua Aurora em São Paulo, conhecido local de boates e casas de prostituição paulistanas. Recordo-me que saíamos nos quatro, eu, Leonor, Norma e o seu Nelson ao cair da noite, em direção às Boates e prostíbulos para encontrar a então Cyntia, para que ela pudesse assinar os papéis e estabelecermos a devida adoção.
Se não me engano foi na terceira noite, estávamos quase a desistir, quando encontramos uma mulher bem na esquina, ela chamou muito a nossa atenção, tinha cabelos negros e curtos, olhos azuis, um lindo sorriso e trajava uma roupa um pouco incomum para a época, vivíamos os anos 90 e ela trajava um agasalho de corrida e tênis, enfim não se parecia com as outras mulheres que estavam ali, quando nos aproximamos ela que nos abordou, da seguinte forma:
-Boa noite, tenho a impressão de que procuram por alguém, eu sou a Mara, conheço muitas pessoas por aqui, será que posso ajudá-los? – indagou
-Sim claro – disse a ela e contei as características e as condições da pessoa que procurávamos e que precisávamos muito encontrá-la, pois o destino de uma criança dependia disso.
-Vem comigo, a pessoa que busca está aqui dentro e apontou para a entrada de uma Boate.
O local era bem ali na Rua Aurora, um local escuro, pintado de preto e vermelho, nunca vou me esquecer, muita fumaça de cigarro e música bem alta dentro da Boate, a Mara entrou conosco e nos levando a um canto da Boate nos mostrou a pessoa que procurávamos, procuramos falar com ela, que a princípio escusou-se, dizendo que não era ela, mas ao ver a Leonor que prontamente a identificou, ela não tinha como negar, quis explicar, disse que estava doente e precisava se tratar, tinha problemas de infecções, álcool e drogas injetáveis, tentamos cuidar dela, mas ela recusou veementemente e, por fim assinou os papéis sem mais perguntas.
Estávamos aliviados, conseguimos enfim, o que viemos buscar, mas ao saímos da Boate desejávamos agradecer a Mara, aquela pessoa que nos levou ao interior da Boate, e perguntamos ao porteiro da pessoa que entrou conosco, e ele nos respondeu que não virá ninguém entrar na Boate conosco, somente nós quatro, fomos ainda na esquina onde a encontramos anteriormente e perguntamos para outras pessoas que nos disseram que nunca viram alguém ali com está descrição e meu filho, acredita se quiser, no dia seguinte ao lermos o jornal do dia, deparamos com a foto da Mara, que era uma atleta profissional de atletismo que havia desencarnado auxiliando pessoas em um Incêndio que ocorreu nesta capital há questão de uma semana, naquelas imediações. Qual seria a ligação deste Espírito bondoso com a nossa história? meu filho isso me pergunto até hoje.
Enfim, no dia seguinte nosso amigo Nelson, deu entrada na papelada da adoção, meu bebê ganhou o nome de Jully, em minha homenagem e ainda fomos amigos por quase 30 anos, até me mudar para cá onde estou.
- Quer dizer então, que toda adoção foi legal? não houve nada a esconder? E sabe por que demorou quase três anos para ela ser concretizada?
- Ah meu filho, foi tudo legal sim, o próprio promotor cuidou disso direitinho o tempo é normal para processos desta ordem.
Eu e a Miriam olhamos nos olhos desta incrível mulher, que nos transmitia verdade e bondade, agradecemos muito e fomos embora, com o pensamento de que o mundo não está perdido, existem pessoas boas e estamos em boas mãos.
Concluímos que não havia nada a esconder quanto ao processo de adoção, nenhuma ilegalidade e passamos isso a nossa cliente e só nos restaria falar com a Nancy.   
Pedimos autorização para falarmos direto com a Nancy, e Jully autorizou.
Ligamos diretamente para o Luiz, esposo da Nancy, e advertimos à ele que o Carlos Alberto, poderia se envolver, inclusive judicialmente com o ocorrido, ele nos confidenciou que era muito próximo do seu sogro e nutria até mesmo uma certa simpatia por ele, e havia conversado longamente com ele, e ele havia contado que realmente havia se envolvido com uma mulher lá de Londrina e que a trouxe escondida para São Paulo, naquela data para dar à luz, aproveitou-se dos documentos da esposa e da filha que tinha poucos meses, e que fez isso somente para ajudar a moça e que após o parto ela deixou a filha para adoção, disse ainda que viviam uma época muito difícil e que ele não arriscaria seu casamento por outra mulher.
Após esta declaração, para a nossa surpresa, ele não mais nos atendeu, ninguém mais falou conosco.
Marcamos com a Jully, uma conversa em nosso escritório para alinharmos às nossas ações, para a próxima segunda feira.
No horário marcado ela e seu esposo chegaram a Baker Street e passamos a contar tudo o que descobrimos e a atitude da família, reiteramos que para prosseguirmos com certeza das nossas ações, deveríamos realizar uma exame de DNA, informal e não oficial com o material que colhemos quando estivemos em Londrina.
Eles concordaram prontamente e assim foi feito, cerca de uma semana depois já estávamos com o resultado em nossas mãos. Nossa cliente era “irmã” por parte de pai da dona dos fios de cabelo, que recolhemos do lixo da casa, ou seja, ela era irmã biológica da Freya.
Agora, ainda precisávamos saber a informação mais importante, aliás o objetivo principal da nossa investigação, que seria descobrir a identidade da mãe da nossa cliente.
Para isso, só teríamos uma fonte, que era o Sr Carlos Alberto, pai biológico da nossa cliente.
Precisávamos que a Jully, decidisse se acionaríamos o Carlos Alberto judicialmente, que seria todo um processo desgastante e longo, ou se poderíamos confrontá-lo e assim descobrir toda a verdade.
Conversando com a Jully, optamos por ir novamente a Londrina-PR e procurar Carlos Alberto e por fim, descobrir definitivamente o nome da mãe dela.
Tínhamos somente uma opção, que seria fazê-lo nos dizer o nome da mãe biológica da Jully, não poderíamos pressioná-lo ao ponto de assustá-lo, contudo não poderíamos dar a ele a opção de fugir e se defender, com tudo que já sabíamos não teria como ele negar, assim colocamos em prática o seguinte plano.
Marcamos nossa chegada à cidade onde residia o Sr Antônio Carlos, para uma quinta-feira ao cair da tarde, cidade pequena que estava há cerca de 30 km de Londrina PR, e partimos do pressuposto que “algumas pessoas até mudam, mas nunca confiem nos seus cabelos brancos, os canalhas envelhecem”. Nos hospedamos em um dos poucos Hotéis da cidade, uma bela cidade que despertava para o turismo.
Fomos ao endereço do Antônio Carlos e deparamos com uma bela casa, assobradada e com um jardim frontal, na garagem dois automóveis, sendo um modelo SUV novo e outro BMW importado já com uns 20 anos de uso, descobrimos após breves pesquisas em mídia social que Antônio Carlos, ele era aposentado mas já contava com seus 62 anos de idade, a sua atual esposa Samira estava na casa dos 40 anos, ela possuía um salão de beleza bem no centro da cidade, onde atendia junto com três funcionárias.
Nossa experiência nos confidência que “salões de beleza” são fontes importantes e confiáveis de obtermos informações, assim imediatamente encarregamos a Miriam de marcar horário para cabelos, unhas e tudo que precisasse, à fim de obtermos maiores informações do casal.
Na hora marcada, ela adentra o salão e prontamente é atendida, Samira a recebe e já a apresenta a sua equipe que começam pelas unhas e demais tratamentos, o pessoal fala muito e não foi difícil saber que Samira a dona do salão é uma mulher muito batalhadora, e seu marido apenas um “encostado e aposentado” que segundo elas, além de não fazer nada ele vive “dando trabalho” com jogo e mulheres.
Nossa agente, nestes locais deve ter muita atenção e decifrar através da postura e das palavras, sempre a pessoa ou o grupo mais apto a nos passar às informações, neste caso era a Samira, embora dona do salão era a especialista em manicure e optou por fazer as unhas da “cliente nova” que se apresentou como esposa de um industrial que estava se mudando para a região.
Samira nos segredou que era muito bom morar naquela região que havia residido em São Paulo e ali era melhor, contou dos seu filho um adolescente de 14 anos que havia tido com Antônio Carlos logo no início do seu casamento, pela data era obvio que no inicio deste relacionamento ele ainda estava casado, confidenciou ainda que ele era um bom marido, ressaltou a sua diferença de idade, e ainda confidenciou que sabia que ele dava suas escapadinhas, principalmente nos sábados à tarde, mas ela não ligava pois nesta mesma hora ela, todos os sábados saía com o vizinho, um fazendeiro novinho da região.
Contando com estas informações, agiríamos no sábado a tarde, no dividimos em duas equipes, enquanto a Miriam ficaria com a Samira, seu seguiria o Antônio Carlos, e não deu outra, exatamente às 14 horas ele sai de casa e pega o BMW e eu o acompanho em direção a uma estrada vicinal.
Passam nem 10 minutos e a Samira, sai com o SUV, Miriam vai acompanhando, ela segue até um parque próximo, para o carro em uma esquina e para a nossa surpresa uma prostituta jovem e loira, apoia na janela, elas conversam e a porta abre e ela adentra no carro, tudo isso bem registrado pela nossa agente, e vão direto a um motel de beira de estrada a questão de alguns minutos dali.
Antônio Carlos, segue pela estradinha vicinal e entra com o carro em um sítio, que estava com as porteiras abertas, um local luxuoso, com uma placa o identificando como Harém do interior, entramos logo atrás e estacionamos ao lado dele.
Fomos recebidos muito cordialmente pela recepcionista, que nos apresentou o sítio e as colaboradoras, área de piscina e jogos, e o valor da estadia ( era cobrada por hora de consumo), fomos primeiro ao bar para conhecer todo o Harém, e o Antônio Carlos estava lá sentado, conversando e rindo muito, gabava-se das garotas que já saiu com outro frequentador, e que aguardaria a Leda, a garota de sua preferência, sentei ao lado e gravei tudo, sem deixar dúvidas, com a chegada de Leda, uma garota que não deveria ter mais de 18 anos, morena cabelos longos, realmente muito jovem, entrelaçam-se os braços e seguem para o quarto.
Missão cumprida, me retirei do local e fui encontrar com a Miriam que relatou; Samira uma hora depois de entrarem no motel, exatamente saiu e deixou a mesma moça no mesmo local que a havia apanhado, demonstrando claramente que havia feito “um programa”.
Domingo logo pela manhã, fomos até a casa de Antônio Carlos, eu me apresentei como detetive particular e disse que precisava falar com ele em particular.
Ele já sabia o assunto então saiu apressado de casa e fomos a uma padaria a alguns quarteirões, onde pudéssemos conversar, a assim transcorreu o diálogo.
Apresentei a ele os fatos que descobrimos, nossas conversas com as filhas e os genros, que deixavam muito claro, tudo que já saíamos sobre ele, quando travamos o seguinte diálogo:
- É exatamente isso, agora quero que nos diga, quem é essa mulher, quero nome e tudo que pudermos saber – disse a ele.
- Não vou lhe dizer nada, quem você pensa que é? para vir aqui e falar comigo deste jeito? O meu passado é meu, e você e nem ninguém tem alguma coisa a ver com ele, entendeu? – vociferou em seguida.
Peguei um envelope e mostrei a ele onde ele havia ido ontem, e no momento seguinte ele me disse:
-Você acha que pode me ameaçar com isto? Eu e minha mulher temos um casamento aberto, posso explicar tudo para ela, não teríamos problema algum.
-Bom se você pode ? tudo bem! agora gostaria de ver a cidade toda vendo isso, o frequentador de bordéis, sua prostituta jovenzinha, e mais à sua história de um pai pilantra utilizando recursos públicos estaduais para o parto de sua amante em 1987, o abandono da criança, tudo isso indo aos jornais e pôr fim a polícia batendo em sua porta, sabe que se não nos disser o paradeiro dela, nós vamos em São Paulo e fazer uma denuncia sua, alegando que você pode tê-la matado, uma vez que após ela ter dado a luz, ela simplesmente desapareceu!- conclui.
Instante que ele parou, nos olhou de forma assustada, e decidiu contornar à sua situação:
-Esperem, eu conto tudo, mas me prometam que isso ficará só entre nós, a Rosa Maria, este é o nome dela, sim tivemos um caso naquela época, só que na verdade ela retornou para Londrina -PR logo após o parto, eu disse a ela que a sua filha havia “falecido” no parto, e a trouxe de volta pra cá, sua família nem desconfiou, uma vez que ela havia escondido a gravidez precoce sob a alegação de passar uma temporada no litoral paulista, foi de onde eu a levei para São Paulo realizar o parto que ocorreu pré-maturo; vocês precisam entender se ela retornasse com a criança, ninguém iria entender, a família dela iria nos destruir, eu era casado naquela época e havia acabado de ter uma filha, já era a terceira como eu ia explicar isso.
Então logo após o parto, eu peguei os documentos da minha mulher e da minha filha, falsifiquei a cópia da certidão e nascimento e dei a saída do hospital, sem mais problemas.
Na noite anterior eu havia ido a um Bordel, bem no centro e São Paulo, e arrumei uma prostituta, que paguei a ela para dizer que o bebê que havia nascido era dela, e que ela se encarregasse de dar, ou matar, sei lá fazer o quê; eu não queria aquela criança – desabafou Antônio Carlos.
Retornamos, primeiro Rosa Maria e dois dias depois eu retornei, não falei mais com ela, li nos jornais que ela se casou com um fazendeiro desta região em Maio de 1994, seu marido faleceu em um acidente de Helicóptero em 2010, juntamente com seu único filho, ela vive desde então em uma Fazenda no interior do Mato Grosso, nunca mais falei com ela, então por favor não me peçam mais nada, e saiam daqui de uma vez por todas, como prometeram! – Concluiu
Olhamos para este ser humano, com repudia, minha vontade era de bater nele muito, contudo analisando e olhando para ele, ou melhor, o que restou dele ficamos apenas com pena, contudo ainda antes de sair, não resisti e falei:
- É verdade, meu senhor, só não lhe disse ainda uma coisinha, você se acha bonitão, né? Um cara fantástico, inteligente que pode mentir à vontade, aliás sua esposa, sua ex-esposa, filhas legitimas, sempre aos seus pés, vou lhe contar um segredo, sua esposa aproveita que você sai aos sábados a tarde e quando não sai com o amante vizinho, diverte-se com prostitutas do parque, mas não se preocupa a sua filha já pagou por este serviço, para você será grátis – momento em que atirei outro envelope sobre a mesa com as fotos da Samira, saindo com a prostituta do parque; desejo que faça bom proveito do seu casamento “aberto”, agora só um alerta: Se você avisar Rosa Maria, inventando alguma farsa e que por ventura ela não nos receber, ou nos evitar, você já era, não lhe adianto o que faremos, mas posso afirmar que você nem vai mais precisar “andar” pra ver.
Levantamo-nos, e saímos da Padaria e retornamos neste mesmo dia para São Paulo.
Realizamos todos os levantamentos da Rosa Maria de Albuquerque e Lins, assim chamava-se a mãe biológica da nossa cliente, e marcamos uma reunião na Baker Street para, enfim podermos passar as boas novas e encerrar este caso.
Era uma terça-feira, marcamos em nosso escritório às 19:00; e no horário exato já os aguardávamos, quando a campainha soou e pedimos que adentrassem ao escritório, se acomodassem e iniciamos o diálogo:
- Sra Jully, acho que hoje podemos finalizar os eu caso – disse
- Seu Amauri, sinceramente nem sei o que dizer, meu coração está palpitando, sei de muitas das descobertas mas preciso disso, seja lá o que for, o Sr pode nos contar, queremos toda a verdade e não nos esconda nada por favor – Pediu a nossa cliente.
Passo a passo fomos contando todo o ocorrido, ligamos a tv com a tela grande, para ilustrar as fotos e os acontecimentos, um a um , quando da revelação da sua mãe biológica, mostramos primeiro a foto na tela, sem dizer o que ela fazia ou a sua condição social; olhamos nos seus olhos e tanto ela, quanto seu marido eram tomados de forte emoção, ela chorou de alegria e por ele foi prontamente amparada, pouco depois após o cafezinho da “alegria”, nós prosseguimos e detalhamos toda a situação dela e suas posses e seu perfil.
De agora em diante, coube somente a Jully, contatar à sua mãe biológica, e explicar este segredo guardado há quase 40 anos. Quanto à nós aqui na Baker Street, ficamos felizes por podermos provar, que em termos de verdade e justiça nada é impossível, com certeza mais uma vez superamos os detetives normais e pudemos provar à nós mesmos que nem sempre acertamos, mas SOMOS DETETIVE E É ISSO QUE SOMOS!

Comentários

  1. Fiquei curioso: qual o modelo do carro que vocês utilizaram na visita a Cyntia em Londrina? Pois se é para causar uma boa impressão, não pode ser um fusca, né?
    Quanto ao caso, instigante como trabalho investigativo e como as coisas vão se desenrolando... Mas fiquei curioso a respeito do que teria feito Jully após descobrir a verdade, se um dia fez contato com seus pais biológicos, especialmente com a mãe. Quem sabe numa próxima história?

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    1. obrigado Pedro, pela atenção, na verdade o noso carro de viagem é um Nissan Kics, utilizamos o veículo sempre adequado ao perfil investigado, temos aqui na Agência um Kicks, um Sandero, uma Harley e uma moto yamaha 125 (igual às de entrega); também de acordo com a necessidade sempre há a possilidade de locação; quanto ao contato ela fez sim, mas uma caracteristicas dos nossos serviços reais é que na maioria das vezes não nos relatam o desfecho exato.

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