10 - DETETIVE BAKER STREET EM UM CASO CHAMADO "QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER".
10 - DETETIVE BAKER STREET EM UM CASO CHAMADO "QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER".
Mais um dia de trabalho, aqui na Baker Street, entrávamos no
verão de 2015; alguns amigos sempre nos perguntam, como e ser detetive
profissional, sempre digo que em minha vida nunca fiz muita coisa, foram quase
quinze anos como policial, “naquela incansável luta contra o crime”, e já se
vão outros dezenove com a nossa agencia de detetive particular, solucionando
casos e acima de tudo aprendendo com eles, claro que muitas vezes nos
surpreendemos com o seu desfecho, e nesta simples conversa procuro contar aos
amigos e leitores algumas de nossas histórias, sempre repito, que os nomes e
locais são preservados, mas a essência do caso e sempre real.
Estávamos em Janeiro de 2015, São Paulo, termômetros marcavam
quase 35 graus, muito calor para a nossa cidade, e na Baker Street, nosso
aconchegante escritório no coração do Tatuapé, vivíamos uma segunda feira,
recordo-me nesta ocasião fazer-me acompanhar apenas de uma boa música, um bom
jazz ecoava pelo escritório, fechando alguns relatórios para entregar aos
clientes, quando como sempre, toca o telefone, do outro lado da linha um homem
muito apreensivo toma a palavra:
-Bom dia, é da agência de detetive? – Pergunta o homem aflito.
-Sim, Amauri falando posso ajudar?
-Meu nome e Rodolfo, preciso muito dos seus serviços, você
poderia me atender agora, estou próximo e chego em alguns minutos – completou.
Devido a sua aparente aflição, rapidamente em questão de
quarenta minutos, ou seja, as 11:00hs, Rodolfo subia as escadas que dá acesso
ao escritório Baker Street.
Adentra a nossa sala um homem magro, aparentando 55 anos, pele
queimada de sol, trajava roupas comuns, mãos calejadas de trabalho, muito
abatido com o problema que o afligia, após as apresentações cordiais, indiquei
o lugar para que se sentasse e ficasse à vontade para iniciar a narrativa de
seu problema, quando tomou a palavra:
-Meu nome e Rodolfo, tenho 55 anos, sou comerciante tenho
algumas mercearias e comercializo frutas frescas, meu problema e com minha
esposa, ela chama-se Carla, tem 52 anos, somos casados a 33 anos, e sinto que
ela está me traindo, ela sempre foi boa esposa e companheira, temos um casal de
filhos, já crescidos e encaminhados, embora residam conosco, mas o fato é que
ela montou um pequeno restaurante acerca de seis meses, não quis mais trabalhar
comigo e de um tempo para cá, como trabalho diariamente desde muito cedo,
percebo que ela desaparece durante o dia, e cheguei a observar mensagens de
aplicativo de celular com o nome de homem, que ela não me mostra.
Sinto-me muito envergonhado em tratar de tal assunto, mas devo
confessar que estou enlouquecendo, não penso em outra coisa, ela apesar da
idade é uma mulher muito bonita e encantadora e de uns meses para cá, tem se
arrumado muito, coisa que nem sempre fez durante a vida; as vezes penso em me
matar e acabar com tudo, tamanha minha aflição! – Momento que espalma a mão
sobre os olhos e entra em pranto compulsivo.
Nestes casos, primeiro acalmamos o cliente e explicamos que o
melhor remédio é saber a verdade, a verdade liberta e faz ver a situação real,
e as decisões que tomaremos de cabeça fria, sempre serão nossas, únicas e
exclusivas, somente quem enfrenta o problema, com coragem e de peito aberto
saberá como agir diante dele.
Resolvemos aceitar o caso e após as tratativas formais, optamos
por segui-la, também com o advento da tecnologia, sugerir que ele colocasse um pequeno
rastreador, e uma escuta ambiente no carro que ela utiliza, neste caso vale
observar que os carros são do nosso cliente (ele possuía dois veículos e eles
se revezavam na utilização).
Este tipo de trabalho, normalmente é realizado por um período de
15 dias, e sempre uma questão de inteligência e observação dos lugares que ela
ia, as conversas que fazia dentro do veículo; confesso que em certos casos
chegamos a flagrar o suspeito no primeiro dia, indo e estacionando em Motéis,
mas esse não foi o caso.
Durante a primeira semana, observamos que diariamente ela ia ao
restaurante, passava o dia todo lá, saindo apenas para compras, médicos e
exames, mas estranhamente ia a um condomínio e estacionava o veículo no
interior do prédio, sempre chegava, um pouco antes do almoço e saia a tarde,
com o passar dos dias, cada vez mais tarde.
Destacamos uma equipe de seguimento, e em um determinado dia de
sol, a flagramos adentrando ao condomínio com o carro e minutos depois tomava
sol, na piscina do prédio em companhia de um homem, que identificamos
posteriormente tratar-se do mesmo que lhe enviava mensagens.
Através de um drone, obtivemos imagens precisas de momentos de
descontração do casal, o que não nos deixava mais dúvidas que a Carla tinha uma
intensa relação extraconjugal com um homem chamado Pedro, de mesma idade, que
residia no Condomínio.
Ao correlacionarmos as informações com a escuta colocada no
carro, soubemos mais da relação dela com o namorado, marcavam encontros e
viviam um romance.
Em posse das informações, chamamos nosso cliente Rodolfo e o
colocamos a par de nossas descobertas.
Até aqui, tudo normal, como acontece em muitos outros casos,
chamamos o cliente e entregamos o material de nossa investigação, ele ficou
muito abatido e no dia seguinte retornou ao escritório para entregar o
rastreador e a escuta e terminar o caso, contudo não foi isso que aconteceu;
para a nossa surpresa ele pensou muito, e fez a seguinte revelação:
- Estou muito triste, mas diante do que me revelam, tive muito o
que pensar, e se ela fez o que fez, deve ter um motivo, confesso que nestes 32
anos de casamento, no início éramos assim, apaixonados e felizes, eu trabalhei
muito para ter o que temos hoje, me olhei no espelho e confesso que não gostei
do que vi, tornei-me triste e amargo, descuidei muito de mim, dela, e não
consegui segurar em minhas mãos o amor da minha vida, sou tão culpado quanto
ela; e não vou abrir mão do amor de minha vida, vou renovar nossa investigação
e vou me propor a mudar, mudar de vida.
Continuaremos monitorando as suas atividades, mas tenho certeza de
que vou reconquista-la; por isso não falarei nada para ninguém, farei ao
contrário, e vou reconquista-la – prosseguiu Rodolfo.
A partir deste dia, prosseguimos a investigação ainda por seis
meses, nosso cliente mudou seu visual, sua postura, trabalhou menos e investiu
mais em si mesmo, e para nossa surpresa, cerca de cinco meses depois ela já não
encontrava mais o namorado, e sua relação voltou a ser apaixonada e sincera.
Nosso cliente deixou claro, sua vontade de mudar, tomou o rumo
da sua vida em suas mãos, passou acreditar mais nele e trocou ciúmes e
lamentação por ação, deixou que ela, o amor de sua vida, percebesse que ele
havia mudado, sem cobranças ou lamentações, como era de se esperar, e isso fez
muito bem a ele que se sentiu renovado e pronto para mais este desafio que a
vida lhe apresentava, arregaçou as mangas e como ele mesmo nos confidenciou
mais tarde “quando entrei em seu escritório, percebia o mundo desmoronando em
minha cabeça, e pela ajuda e auxilio de vocês, descobri uma dura e ingrata
verdade, mas hoje posso dizer que apanhei no chão os cacos da minha vida e
reconstruí o meu verdadeiro eu, hoje olho-me no espelho e voltei a me
reconhecer”.
Findo os seis meses, Rodolfo voltou ao escritório, para devolver
os equipamentos, era outra pessoa, muito feliz e confiante, nos confidenciou
que a partir de agora não mais desconfiava, pois eles continuavam juntos só que
desta vez, não haviam mais interesses ou duvidas, estavam e continuariam juntos
por amor.
Não sabemos se continuam juntos, ou o que aconteceu depois
disso, mas de uma coisa não temos dúvida, essa história mostra que diante das
tragédias cotidianas, todos temos escolhas que podem nos libertar, como nos
tornar reféns das nossas atitudes.
Percebam os amigos e leitores, que o coração, tem suas
variáveis, muitas vezes precisamos apenas saber a verdade e a verdade sempre
liberta.
E assim, prosseguimos descobrindo e trabalhando.
FIM....
Comentários
Postar um comentário