18- UM CASO INTERNACIONAL – O TURISTA ITALIANO.
18- UM CASO INTERNACIONAL – O TURISTA ITALIANO.
Mais um dia, na Baker Street, nosso modesto, mas aconchegante
escritório de investigações particulares, no bairro do Tatuapé.
Vivíamos o mês de abril de 2014, para nós aqui em São Paulo era
muito grande a expectativa sobre a copa do mundo de futebol, que se iniciava no
dia 12 de junho, um evento que colocava nosso país aos olhos do mundo, época
que recebemos milhares de turistas em nossa cidade e está história está
intimamente ligada há alguns destes turistas.
Fomos contatados por uma mulher chamada Carla, administradora de
Empresa, que trabalhava em uma empresa da sua família que seus avós construíram
aqui em São Paulo há mais de cinquenta anos, trabalhava junto com a sua mãe
chamada Luísa, e seu irmão Adalberto, uma empresa familiar com seus 20
funcionários e embora sustentassem um bom estilo de vida, sobreviviam com muito
trabalho e dedicação.
Marcada a reunião preliminar, exortou assim as suas
preocupações:
-Meu nome é Carla, sou administradora de empresas, e o que me
traz até você é um caso familiar, venho em nome também de meu irmão e minha
mãe, estamos muito preocupados com minha irmã Natália, ela tem 42 anos, é
separada do marido e tem dois filhos de 15 e 18 anos, todos residem na casa da
minha mãe, minha irmã é uma pessoa muito difícil de relacionar-se, não para em
emprego algum, chegou a trabalhar em nossa empresa há alguns anos e foi
afastada após desviar dinheiro da empresa; não trabalha há cerca de dois anos,
vive com o dinheiro que minha mãe lhe dá, mas tem o péssimo habito de gastar
mais do que tem, assim vive devendo, para mim, meu irmão, enfim para toda a
família. Contudo, de um mês para cá, está muito diferente, tem aparecido com
dinheiro, pagou as dívidas acumuladas com a família, regularizou seu nome no
mercado, abriu até mesmo uma conta bancária, e o mais estranho que ofereceu
dinheiro para minha mãe nas despesas da casa; indagada sobre a fonte desta
renda, apenas diz que está trabalhando, mas não dirá a ninguém, o que faz e o
quanto ganha.
O mais estranho é que ela não sai para trabalhar, sai apenas
alguns dias da semana em horários diversos, e essa situação nos deixa muito
preocupados, por isso estou aqui, quero que descubram o que ela faz, aonde faz,
e de que forma?
Iniciamos a investigação pelo levantamento das contas de
telefone da Natália, o que não foi difícil, uma vez que ela utilizava um plano
em conjunto com a sua mãe, e como estava em nome da mãe, sugerimos que nos
fornecessem acesso aos seus registros telefônicos, e assim foi feito; ela se
utilizava também de um carro BMW de propriedade de sua mãe, veículo que
instalamos um rastreador veicular móvel, traçamos o seu perfil pessoal e
descobrimos que há questão de dois meses provia um anuncio em um site de
encontros; assim munidos das informações e ferramentas preliminares passamos a
partir de então seguir os seus passos e descobrir quais seriam as suas novas atividades
profissionais.
Cruzando as informações do seu extrato telefônico, com as datas
nas quais ela começou a aparecer com a sua nova fonte de renda, e com alguns
perfis respondidos no site de relacionamento, chegamos a um turista italiano de
nome Pasquale, que residia em Napoli na Itália, e estava no Brasil desde
fevereiro, declarava-se um investidor, com olhos aos turistas estrangeiros que
chegariam ao Brasil para a copa do mundo.
Pasquale, residia em um condomínio na região da Paulista,
segundo nossas investigações ele gastava somente com aluguel cifras que
ultrapassavam 15 mil reais por mês, investiu em duas boates e havia contratado
Natália para agenciar moças novas e bonitas, para as boates com a promessa de
leva-las para trabalhar na Europa após a copa do mundo.
Segundo as nossas investigações, boates similares, contratam
garotas para este tipo de trabalho pagando uma quantia variável, contudo sempre
no mesmo padrão, já Pasquale e Natália pagavam dez vezes mais, ou seja, alguma
coisa não combinava nesta nova atividade de nossa investigada.
Foram cerca de 20 dias, seguindo os seus passos e registrando as
suas contratações e empreitadas noturnas, uma vez que Pasquale, como não
conhecendo São Paulo, sempre fazia-se guiar por Natália, registramos um vasto
material entre fotos e filmagens, recibos e locais de contratação e trabalho,
identificamos e listamos mais de vinte pessoas entre garotas e alguns rapazes
que foram contratados pela nossa investigada.
Na medida que a copa do mundo, se aproximava maior era o
movimento de turistas dentro das boates, com a aprovação dos nossos clientes
optamos por infiltrar um agente que foi contratado como segurança de uma destas
boates, assim saberíamos mais sobre este novo meio profissional de nossa
investigada.
Esclareço que quando realizamos este tipo de infiltração, o
agente é preparado e instruído para a missão, tem um bom salário, e é
monitorado diariamente a fim de que sua presença se traduza em informações
preciosas e uteis para o andamento do serviço. Sabíamos os gostos e
preferências da Natalia e não nos foi difícil fazê-la simpatizar com o nosso
agente infiltrado que vamos chamar de Marcos.
Na breve convivência diária com Natalia, Marcos conseguiu
descobrir que Pasquale prometeu a ela uma vida de luxo e facilidades na Itália,
assim passamos aos nossos clientes a necessidade de investigar o Pasquale, em
seu país de origem, pois aos nossos olhos estaria claro as suas intenções
criminosas.
Com a autorização, contatamos uma agência italiana de
investigação particular e encomendamos um dossiê sobre o passado criminal do
Pasquale, e três dias depois recebemos a resposta.
Como suspeitávamos, Pasquale era uma pessoa com extenso passado
criminal, incluindo tráfico de drogas, agressões e suspeitas ligações com
prostituição e a máfia italiana.
Esclareço aos leitores que somos detetives particulares e não
somos forças regulares (policiais), assim o nosso compromisso é única e
exclusivamente com os nossos clientes, não temos a obrigação legal de reportar
as autoridades policiais a iminência de crimes, ou seja, como todo cidadão
comum, nos é facultada essa comunicação e diferente dos policiais, este sim tem
o dever de informar qualquer atividade criminosa sob pena de cometer o crime de
prevaricação.
Assim, em posse de todos as informações apuradas, nos reunimos
com a Carla, sua mãe e seu irmão em nosso escritório, nesta altura a copa do
mundo agitava e silenciava nossas ruas, alterando a rotina de todo mundo.
Retiramos o agente infiltrado e concluímos que Natália não sabia
do passado de Pasquale, estava encantada com a mudança de vida, proposta por
ele, assim relatamos as nossas conclusões para a família que compreendeu e
agradeceu o nosso trabalho e se encarregaria de contar a Natália e alertá-la
dos riscos que estava correndo, pedindo que o caso se encerrasse por aqui.
E assim foi feito, soubemos que meses depois as boates montadas
por Pasquale foram fechadas e ele e Natália partiram para fora do Brasil.
Quanto a Natália, sua irmã nos disse cerca de um ano depois, que
ela fora presa na Europa por tráfico internacional de drogas, e aguardava
julgamento, ao nosso ver, esta já era uma tragédia anunciada, pois já havíamos
traçado o perfil da pessoa que ela se envolvera. Sua família estava com a
consciência tranquila pois haviam feito tudo ao seu alcance, haviam avisado na
época a ela todas as descobertas e previsões que ela simplesmente decidiu
ignorar, claro que lamentavam a situação dela, contudo todos sabiam a verdade
dos fatos, o que se não os modifica, pelo menos traz a certeza de terem feito
tudo que estava ao seu alcance.
Quanto aos seus filhos, nem precisamos dizer que ficaram com a
avó e vivem até hoje em São Paulo, pois pessoas que resolvem viver, ou brincar
de viver uma vida de emoções, nunca se prendem aos filhos.
Para nós na Baker Street, fica a lição de Victor Hugo “Quem
poupa o lobo, sacrifica as ovelhas! “.
FIM ...
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