31 - ARTE IMITA A VIDA!



31 - ARTE IMITA A VIDA!

Quando acompanhamos as estórias das novelas globais, como "Amor a Vida", imaginamos que tais imbróglios de família não existem, ou ainda que existam com tal intensidade somente na imaginação dos seus fabulosos autores.

Contudo, digo que não!
Recordando um caso que passo a narrar, observando que evidentemente os nomes e locais foram substituídos para preservar a identidade dos personagens, pois o que importa é o fato e a maneira do seu acontecimento, vamos a ele:
O ano era 2001, estávamos entrando no verão da cidade de São Paulo, devo lembrar que nesta data não tínhamos esta rede de informações que hoje possuímos em internet e rede sociais, assim vamos aos fatos:
Estávamos em nosso escritório no bairro do Tatuapé em São Paulo quando toca o telefone, nesta época ainda costurávamos alguns contratos de investigações empresariais e não podíamos nos dar ao luxo de rejeitar qualquer caso que fosse, era uma senhora que indagava se “conseguiríamos localizar uma pessoa”, marcamos uma reunião e na hora aprazada lá estava ela adentrando ao nosso escritório.
Uma senhora aparentando 55 anos, que chegando ao escritório foi prontamente recebida e após os cumprimentos iniciais foi ao assunto:
-Meu nome é Suzana, e o que me traz até aqui é que preciso localizar o pai do meu neto, eu explico, minha filha hoje com 32 anos, há questão de 12 anos atrás enamorou-se por um sujeito chamado Renato Borges, foi um relacionamento passageiro e ela estava noiva na época, casou-se em seguida percebendo que estava grávida, seu noivo e posterior marido assumiu a paternidade da criança sem nunca contestá-la.
Depois do casamento, através de uma discussão corriqueira de casal soube da possibilidade dele não ser o pai da criança e mesmo depois do nascimento, quando meu neto já estava com 1 ano de idade ele exigiu um exame de paternidade e com o resultado negativo retirou seu nome da certidão, terminou o casamento a colocando para fora de casa e nunca mais quis contato com minha filha ou meu neto.
Contudo, agora minha filha mora em Paris e está noiva e de casamento marcado para os próximos meses e precisa reencontrar o pai; para assim poder registrá-lo e posteriormente levá-lo para morar com ela em Paris.
Por enquanto eu cuido dele, desde que nasceu.
-Muito bem, - respondi – e quais os dados da pessoa a ser localizada.
-Esse é o problema, como já lhe expliquei foi um caso passageiro, e dele, minha filha Denise só lembra o nome Renato Borges e que tinha 32 anos na época e exercia a função de produtor de eventos em uma famosa casa noturna do bairro de Moema, que hoje nem existe mais.
-Bem, prometo que faremos o possível mais esse nome é muito comum e fazem doze anos; muita coisa mudou desde então, mais vamos ao trabalho.
Combinamos e acertamos os honorários e iniciamos as investigações.
Passaram-se duas semanas e não avançamos muito, quando fui surpreendido por um telefonema desta senhora que passo a descrever:
-Bom Dia, aqui é a Suzana, quero saber como anda a nossa investigação?
-Não fizemos muito progresso, uma vez que como já lhe disse esse nome é muito comum e ainda estamos procurando.
De repente esta amável senhora, transformou-se ao telefone e assumiu uma outra identidade; demonstrando uma personalidade muito diferente da primeira impressão, nessa demonstrava claramente a pressa de localizar o pai do seu neto, não por questão afetiva e sim por questões financeiras que passamos a compreender pelo diálogo a seguir:
-Você está enrolando uma pobre viúva, recebeu meu dinheiro e agora não faz o seu devido trabalho, nosso tempo está se esgotando, minha filha está voltando a São Paulo e precisamos localizar esta pessoa; minha filha está de casamento marcado com um alemão muito rico e se não localizarmos o “pai” do meu neto, a culpa será sua! - de perdermos essa oportunidade.
Confesso que a “bronca”, surtiu o efeito desejado, quando nos habituamos a casos corporativos e criminais, não damos muita razão ao tempo, explico que preferimos comprovar verdades e dar ao tempo seu processo de reação, o que obviamente pelo exposto, neste caso não seria possível.
Paramos outros trabalhos e optamos por resolver este assunto de uma vez.  
Assim passamos a entender melhor a busca de nossa cliente, vasculhamos a história da referida casa noturna, conversamos com vizinhos e através de sua antiga composição societária chegamos a um dos seus antigos proprietários da época; que nos recebeu quando internado em uma clínica de dependentes químicos; e obtivemos informações que na época a casa, era uma casa de shows e para manter uma freguesia selecionada costumavam trazer garotas de “programa” de uma boate do centro para “animar” as noites de shows e baladas, e se recordava tanto do Renato Borges e de uma garota que ele se envolverá, que está garota era indicada pela agência que alimentava a referida Boate, contudo não saberia dizer o paradeiro do Renato, agradecemos a sua colaboração e nós retiramos.
Para nós estava claro que Denise fora esta garota de programa e que o caminho para localizarmos o Renato passava pela boate e suas agenciadoras.
Dias depois Denise retornara a São Paulo, e marcamos uma reunião em sua residência com a presença de sua mãe.
A princípio relutou em contar a verdade dos fatos mais diante das nossas descobertas acabou por nos contar a verdade, embora sua mãe nunca falasse a respeito achamos que ela no fundo, sempre soube da conduta de sua filha, por isso cuidava do neto por todos esses anos, recebendo uma gorda mesada pelos seus cuidados.
Relatou-nos o nome da Agência e de sua agenciadora na época que ela teve o caso com o Renato, embora estivesse noiva de um Empresário com quem namorou por mais de 6 anos, levava uma vida dupla alternando um noivado com os prazeres do dinheiro fácil.
Procuramos esta agenciadora e conversamos com ela explicando a importância e o sigilo que envolvia nosso serviço, sempre demonstrando nossa procura pela “verdade” por traz de cada caso, embora ela não se emocionasse com nossa narrativa, tornou-se mais colaborativa quando a lembramos que agenciar prostituição é crime, que a denunciaríamos caso ela não se lembrasse da pessoa que procurávamos. Em um relance de bondade ela recordou-se que possuía uma caderneta com os nomes dos seus amigos e clientes e porventura encontrou um telefone com o nome Renato Borges.
Efetuamos um levantamento pela data junto a Cia Telefônica e assim localizamos o cadastro do proprietário do telefone e com os dados em mãos; não nos foi difícil localizar o Renato Borges.
Contatamos o Renato, que nos pareceu uma pessoa muito simpática e concordou em nos receber imediatamente, contou-nos que havia se separado e nunca teve filhos, morava com a mãe e sempre sonhou em ser pai, mostramos uma foto do garoto, que devo confessar, era muito parecida com um retrato que ele ostentava em um porta-retratos em sua sala que era sua foto com a idade de 12 anos.
Recordou-se imediatamente do seu romance com Denise, lembrando datas e tudo mais que indicasse ser a pessoa que procurávamos.
Contamos Denise no dia seguinte com uma foto de Renato e lhe contamos todo o procedimento realizado até mesmo a entrevista da noite passada, com a concordância de Renato colocamos ambos em contato e assim para nós o CASO estava encerrado, pois havíamos encontrado a pessoa que nossa cliente apontará a ser localizada.
Passados uns dois meses, fomos contatos por outro homem para uma nova investigação e este informou que nos havia conhecido pela apresentação do Renato Borges que ficara muito bem impressionado com o serviço que realizamos.
Tratava-se de uma investigação empresarial, e quando fomos ao escritório do novo cliente encontramos o Renato que por fim nos confidenciou que após o encontro com Denise, ficou muito feliz e conheceu o garoto que poderia ser seu filho, contudo este fato não se confirmou após o exame de DNA.
Como dizia o poeta. “A Vida é a Arte do Encontro embora haja tanto desencontro pela Vida.”.

FIM.

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