04-INFILTRAÇÃO EMPRESARIAL –
4-INFILTRAÇÃO EMPRESARIAL –
Serviço que muito apreciamos em nosso escritório, devido a características de “crime” trata-se de infiltração empresarial que é o termo empregado quando “infiltramos” um agente como funcionário normal da empresa a fim de “descobrir” particularidades e irregularidades e até condutas criminosas.
Passamos a narrar um “caso” em que atuamos nos meandros de 2003,
recordando que evidentemente os nomes e locais foram substituídos para
preservar a identidade dos personagens, pois o que importa é o fato e a maneira
do seu acontecimento, assim vamos a ele:
O ano era 2003, lembro ainda que as informações que hoje
possuímos em questão de internet e redes sociais ainda engatinhavam em nosso
país, assim todas as informações nos chegavam de forma quase artesanal
provindas de diversas fontes, isto esclarecido vamos ao caso:
Vivíamos o mês de novembro do ano de 2003, a economia aquecida
presenciava uma grande expansão do setor de terceirização de mão de obra,
inclusive nas grandes indústrias, que neste caso era uma grande fábrica de
chocolate e pela época preparava-se para a Páscoa contratando um enorme
contingente de mão de obra terceirizada.
Estávamos em nosso escritório quando fomos contatados por um
Empresário que possuía uma agencia de empregos terceirizados e marcara para a
próxima tarde uma reunião para expor a situação que se encontrava e a
necessidade dos nossos serviços, assim marcamos para as 16:00 horas em nosso
escritório no bairro do Tatuapé em São Paulo.
Na hora exata, eu e minha assistente Miriam tomávamos um café
quando a campainha soou e adentrou ao nosso escritório um Senhor de
aproximadamente 45 anos grisalho trajando terno azul e aparentando extrema
seriedade acompanhada de outro homem de aproximadamente 35 anos, cabelos curtos
e trajando uma camisa solta aparentando portar um revolver, após as
apresentações ele se identificou como Sr Armando e apresentou seu acompanhante
como Roberto seu segurança e cabo da polícia militar e passou a narrar suas
necessidades e expectativas quanto aos nossos serviços:
-Sou dono de uma Empresa que terceiriza mão de obra, para uma
grande fábrica de chocolate, e no último dia 10 deste mês eu e meu segurança
que é policial sacamos uma grande quantia em dinheiro do banco que era
destinada ao pagamento dos meus funcionários e segundos antes de adentrar às
portas da minha empresa, enquanto meu segurança estacionava o carro, fui
roubado por dois jovens em uma motocicleta que me apontaram uma arma e levaram
uma bolsa com todo o dinheiro, tenho certeza que os ladrões possuíam
informações privilegiadas para haverem cometido o roubo, pois ninguém de fora
poderia supor ou até mesmo se arriscaria a roubar-me sabendo da escolta
policial que sempre me acompanha, assim gostaria que investigasse minha empresa
para sabermos se a informação do meu “saque” saiu de algum funcionário do
interior da empresa, ou de alguém ligado a mim, mesmo porque fui informado que
tal situação poderia ocorrer e partiria de alguém muito próximo a mim!
Indaguei: -Compreendemos à sua necessidade, contudo gostaria que
esclarecesse de onde veio a informação que este evento partiu de alguém muito
ligado ao Sr?
-Deixe-me explicar – prosseguiu o Sr Armando – eu não sei
certamente qual a sua crença religiosa, “contudo devo dizer que sou
espiritualista e possuo um ‘guru” espiritual que me alertou “antes” do
acontecimento e disse ainda que seria alguém “muito ligado a mim” este fato
muito me preocupa, peço que me ajudem, os Srs nos foram muito bem referenciados
e necessito esclarecer o ocorrido o mais breve possível.
-Vejamos, antes de qualquer coisa devo dizer-lhe que os fatos
falam mais que previsões e sinceramente não acredito que elas possam se
realizar em face de nossas ações, atitudes e escolhas, contudo vamos ao
trabalho, sugiro que iniciemos com uma investigação completa e infiltremos um
agente que poderá ser contratado em seu setor administrativo e nos informe os
acontecimentos diários de sua Empresa, escolheremos alguém de nossa equipe que
tenha o perfil, preferencialmente de uma “vaga” que o Sr possa já tê-la em
aberto, assim não arguindo suspeitas por parte dos seus funcionários.
Combinados os detalhes de honorários, perfil do funcionário
infiltrado e datas e prazos para o trabalho passamos a investigação
propriamente dita.
Já no dia seguinte à contratação, antes de mais nada iniciamos com
uma “visita” disfarçada ao “guru” do Sr Armando que passamos a descrever a
seguir:
Manhã de sábado, chegamos a um sítio ainda na grande São Paulo,
sol calor já se manifestava tornando a manhã quente e sufocante encontramos o
endereço e logo reconhecemos pela placa que oferecia serviços espirituais a
quem pagasse por eles, tipo ...”amarrações para o amor e prosperidade para a
vida financeira entre outros” , batemos a campainha e fomos atendidos por uma
moça jovem , com bonitos traços e trajada de maneira simples e descalça,
pedimos para falar com o responsável alegando uma “consulta” para a
prosperidade em nossos negócios e fomos levados a uma sala onde um homem de
cerca de 50 anos, branco nos recebeu sentado em frente a várias imagens de
santos e demais entidades, e deu início a consulta:
– Bom dia...meu filhos..em que o Pai velho pode ajudar a vocês?
– Bem...- prossegui inventando uma estória para analisar a
reação do “guru”. Que se baseava na solução de um problema que envolvia uma
relação empresarial com fraude e crime, tudo porém fictício e aguardei a
resposta dele. Que nos possibilitaria uma melhor análise de seu comportamento.
Após ouvir toda a estória, o “guru” abaixou a cabeça e meditou
por instantes e concluiu:
– Meus filhos, eu e meus amigos trabalhamos aqui com as
esperanças e realizações das pessoas que nos procuram, por isso cobramos pelos
nossos serviços, assim queria que vocês refletissem o que andam fazendo e
depois se retirassem daqui e não mais retornassem, pois aqui não é e nunca foi
o lugar de vocês!
Dito isso, nosso interlocutor gritou e veio até a sala um
ajudante de uns dois metros de altura, negro alto e forte que nada disse e nos
acompanhou até a saída do sítio.
Diante do exposto concluímos que nosso “guru” ou obtivera
informações privilegiadas ou a sua ligação com o além o preveniu de nossa
investida, contudo de qualquer maneira o breve futuro nos mostraria a verdade.
Selecionamos um rapaz de 19 anos de nome Jair, que possuía o
perfil desejado e o contratamos para ser nosso “agente infiltrado” neste caso,
apresentamo-lo ao cliente que procedeu às ações de praxe de uma contratação
normal e dois dias depois ele já estava trabalhando como “continuo” na empresa
de terceirização de mão de obra, onde somente seu proprietário sabia de sua
identidade e função investigativa.
Nos dias que se seguiram nosso agente nos informava toda a
rotina da Empresa, donde pudemos traçar um perfil dos seus Departamentos e
funcionários, neste tipo de serviço depois que iniciamos, na maioria das vezes
acabamos por constatar outras tantas coisas que à princípio não seriam objeto
da investigação, contudo passam a ser do interesse do proprietário da Empresa
visto que algumas atitudes geram prejuízos tanto financeiros como operacionais.
Analisando a rotina acabamos por descobrir algumas curiosidades
que listamos a seguir:
-Gerente Administrativa chamada Sonia, era uma mulher dos seus
40 e poucos anos, separada do marido e com dois filhos que sustentava com o seu
salário, contudo constatamos que ao termino do expediente em determinados dias
da semana frequentava um ‘bar” próximo da Empresa e era comum vê-la saindo
totalmente “embriagada” e na companhia de diferentes homens.
-Auxiliar administrativo de nome Anderson, um rapaz de 20 anos,
casado e namorava uma outra funcionária de nome Márcia que era auxiliar de
cozinha, possuía dívidas financeiras originadas provavelmente de seu duplo
relacionamento, contudo trabalhava de forma exemplar e não apresentava “riscos”
a empresa.
-Segurança pessoal do Sr Armando era um homem de 40 anos e
chamado Roberto Oliveira, era cabo da Policia Militar e trabalhava à noite na
corporação e de dia realizava a segurança pessoal do nosso cliente, apuramos
que apesar de ser “casado” relacionava-se afetivamente com o nosso cliente que
como descrevemos era um Sr solteiro de 45 anos e que residia com a sua mãe em
uma luxuosa casa em Tamboré.
Passaram-se quase dois meses desde o início da Operação e nada
podíamos acrescentar que ligasse a rotina da Empresa ao “roubo” que nos
obrigávamos a apurar, em levantamentos dos “suspeitos” não encontramos quem
tivesse sua “renda” aumentada após o advento do crime, demonstrando sua
participação efetiva, assim começávamos a sentir uma “incomoda sensação de
fracasso” em nossas ações.
Quando nosso agente Jair em um happy hour no barzinho que servia
de ponto de “encontro” após o expediente; teve a informação que seu
proprietário de nome Carlão, havia uma noite antes, “agredido” a esposa que
trabalhava como cozinheira no bar (aliás ela era muito amiga do nosso cliente),
a socos e pontapés e havia sido preso em flagrante e ela socorrida ao hospital
e “misteriosamente” ele só não foi preso em flagrante como também contava aos
quatro ventos que pagou cerca de 80 mil reais aos policiais para não ser preso
e ainda acrescentando “quem tem dinheiro não vai preso neste país”... fato que
nos chamou a atenção porquanto a quantia assemelhava-se a subtraída no “roubo”
sofrido pelo nosso cliente.
Passamos a investigar o Carlão, e não nos foi difícil descobrir
que no passado ele já havia sido preso por “roubo e receptação” por vários
anos.
Conversamos com sua esposa que após a agressão retornara a casa
de sua mãe, e como não só o bar e todas as contas de celulares estavam em nome
dela, passamos com a sua autorização a rastrear as ligações do Carlão no dia do
“roubo” e assim descobrimos que:
-Nosso cliente e sua gerente Sônia tomaram café da manhã, no dia
do roubo e como sempre falaram a mesa da quantia a ser sacada, bem como o
trajeto que fariam do banco para a Empresa, ciente da rotina do nosso cliente o
dono do bar seu Carlão, ligou para dois amigos que eram “ladrões” e combinou o
“modo” de executar a tarefa bem como a sua divisão, visto que os “ladrões” eram
amigos e ele mesmo encarregava-se de receptar objetos roubados rotineiramente
de outras vítimas.
Agendamos uma reunião com o nosso cliente, contamos
detalhadamente os fatos apurados, e os métodos utilizados para a nossa
conclusão que não nos deixava a menor dúvida da autoria do fato, o perfil
apurado de todos os funcionários e do dia a dia da sua Empresa.
Ele ficou muito satisfeito com o resultado do nosso trabalho,
sua exatidão nos fatos, já entrávamos no terceiro mês de investigação, é
justamente quando normalmente, por motivos contratuais encerramos nossos casos.
Colocamo-nos a disposição do nosso cliente para acompanharmos
junto às autoridades policiais à notícia crime, contudo para a nossa surpresa
ele preferiu, junto do seu segurança ter uma conversa com o Carlão e resolver
pessoalmente os fatos apurados, assim encerramos a nossa participação no caso.
Esclareço ao amigo leitor que pode nos perguntar:
-Após a nossa agência investigar a conduta do Carlão, não
teríamos a obrigação de reportar as autoridades policiais o “crime” resolvido?
Respondo que não, atuando como detetive particular,
representamos uma força não regular e como não integramos qualquer força
policial não temos a obrigação de reportar a notícia crime às autoridades,
deixando a mercê e a conveniência do nosso cliente tal informação e
providências.
Quanto ao “guru” espiritual concluímos apenas que não teve
nenhuma ligação com o fato criminoso e ainda quanto ao nosso agente infiltrado,
uma vez acabada a tarefa demitiu-se regularmente e ainda executa alguns
trabalhos a nossa agência.
O Carlão, este continuou amigo do nosso cliente.
FIM...
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