08 -DETETIVE EM UM CASO DE EXTORSÃO



08- DETETIVE EM UM CASO DE EXTORSÃO.

Vivíamos a primavera de 2017 ; calor na cidade de São Paulo, muitas das nossas consultas profissionais prendem-se as relações familiares, por vezes somos procurados por pessoas que não querem descobrir a verdade, pelo contrário desejam perseguir e incomodar quem simplesmente optou por não mais manter laços pessoais ou de amizade, mascarando atitudes e inventando verdades, e ainda desejam que nós colaboremos, por vezes descobrindo fatos que elas se utilizarão posteriormente para chantagens pessoais e profissionais.

Nossa experiência nos mostra, aliás são quase 20 anos em investigações privadas e foram mais 15 anos nas fileiras policiais, que nos coloca sempre do lado certo, do lado justo, embora sendo profissionais e necessitarmos do dinheiro ganho a cada dia, nos posicionamos sempre em favor da verdade e da justiça, orientando e auxiliando, certo que nem sempre somos compreendidos ao recusar alguns casos.
Passo a narrar um caso em especial, que muito nos tocou com relação ao sentimento envolvido em uma relação familiar desgastada e de aparências, mas vamos ao caso:
Quinta-feira, manha de sol em São Paulo, somos procurados por telefone, por um homem chamado Cesar, que se apresenta como Empresário, diz ter sido indicado por um amigo que já teria utilizado os nossos serviços, demonstra-se muito nervoso e preocupado, pede uma consulta para a mesma hora, endereço anotado passamos a aguarda-lo.
Como é de costume, após marcarmos uma consulta sempre procuramos saber um pouco mais da pessoa que utilizara nossos serviços, neste caso apuramos rapidamente tratar-se de um Empresário paulistano, cujos negócios estavam ligados ao Governo do Estado; tratava-se de um homem de 55 anos, casado com esposa da mesma faixa etária, três filhos crescidos, mantinham relação com instituições beneméritas, tanto ele quanto a esposa e com um alto poder aquisitivo, por hora as informações já nos bastariam.
Na hora aprazada, percebemos tocar o interfone, pedimos que subisse à nossa sala, em abrindo a porta nos deparamos com um homem de estatura mediana, vestido com roupas esportivas e de marca famosa, usava óculos, suava muito, demonstrando intranquilidade e nervosismo, pedi que entrasse e se acomodasse em uma cadeira defronte a minha mesa, notamos que ele se encontrava incomodado com a presença da minha assistente Miriam , que imediatamente percebeu e retirou-se alegando outros afazeres; imediatamente ele sentou-se na cadeira indicada, deixando-se cair e externando toda a sua preocupação:
-Meu nome e Cesar, sou Empresário, quem o indicou, foi um grande amigo que já utilizou os seus serviços, mas que pediu para que não revelasse a indicação, talvez com receio de comentários, bem compreendo isso, mas meu caso é o seguinte, sou casado com Anete, minha esposa que temos um relacionamento de 35 anos, filhos já crescidos, posso dizer que nestes 35 anos eu nunca trai minha mulher, sou apaixonado por ela e muito feliz com a vida que temos, mas ontem , exatamente ontem, tínhamos uma reunião no fim da tarde com representantes do governo, participariam desta reunião somente eu e minha secretaria, contudo estes representantes desmarcaram a reunião, cerca de uma hora antes, assim já estávamos com a agenda livre e minha secretaria Telma, uma linda moça de 30 anos, me convidou para um happy hour, em um barzinho badalado e próximo a Empresa.
Fomos ao barzinho, sentamos em uma mesa, começamos a beber e falarmos da vida, dançamos e sim, rolou uma certa intimidade, mas mesmo havendo bebido, não levei adiante, disse a ela que era casado e amava a minha esposa, apenas saímos abraçados e o manobrista trouxe meu carro e eu a deixei na porta do seu condomínio em um bairro próximo.
Assim que a deixei, conferi meu celular e havia uma mensagem pelo aplicativo de watssap, um número estranho que me chamava pelo nome e desejava uma boa noite, visualizei e como não conhecia, eu não respondi, a pessoa ao notar que eu visualizei e não respondi, imediatamente me envio fotos do meu encontro com a Telma e um vídeo e me disse que eu era um “safado” e que se não desse atenção e pagasse U$10 mil, ela mostraria tudo para minha esposa e acabaria com meu casamento e divulgaria minha “traição” em rede social; meu Deus eu nunca traí de verdade a minha esposa! isso é uma mentira e as fotos não revelam a verdade.- ao concluir entregou-me o seu celular para que constatássemos o ocorrido.
Após ler o conteúdo, cerrei levemente os olhos e perguntei a ele:
-Você realmente tem alguma relação com a Telma? ela e casada? mais alguém sabe deste encontro? – perguntei
-Não, não sei pelo que me toma, estou lhe dizendo que nunca trai a minha esposa, sim a Telma e casada, não conheço o marido dela, e não, ninguém sabia do encontro, porque simplesmente não era um encontro, foi um happy hour inocente, e agora estou sendo chantageado, quero e preciso que você descubra quem está por traz disso; desejo resolver isso de uma vez por todas, mas não preciso dizer que este assunto é muito secreto, não desejo forca policial envolvida e quero o máximo empenho, sigilo e discrição.
Apresentado o caso, e mediante a afirmação de nosso cliente que ele era inocente e malfeitores o estariam extorquindo, decidimos auxiliá-lo no caso; preenchidas as formalidades do contrato, passamos a analisar o caso.
O número de contato do aplicativo watssap era de um celular pré-pago, cadastrado em nome de um senhor de 70 anos e residente no Estado do Ceara, obviamente falso, que foi imediatamente descartado.
Passamos a analisar as conversas, modo de escrita, assunto, forma de exigências, que os malfeitores fizeram ao nosso cliente, tudo tinha de ser rápido, pois haviam aprazado 48 horas, apenas para que nosso cliente pagasse os U$10 mil, exigidos.
Formamos dossiês, sobre a secretaria Telma e seu marido Arnaldo, analisamos redes sociais, trabalho, bens e antecedentes criminais, e nada foi encontrado que os ligassem a estas exigências.
Analisamos também nosso cliente Cesar, sua esposa e seus filhos, separadamente e apenas um padrão chamou a atenção da minha assistente Miriam, que percebeu que a esposa do Cesar; Anete publicava com frequência artigos em rede social, e sua característica de linguagem se assemelhava a dos malfeitores; tanto que separamos algumas “frases” soltas que quando juntas e ampliadas em nossos quadro de evidências, transmitiam a impressão de similaridades que neste caso, não podiam ser desconsideradas, contudo o nosso prazo esgotava-se e precisávamos tomar algumas atitudes, quando chamamos nosso cliente Cesar para que “juntos” iniciássemos uma negociação pelo aplicativo com os malfeitores para o pagamento da extorsão.
Exigimos pelo aplicativo, nem preciso dizer que toda a negociação foi registrada, e que o dinheiro, que seria pago em dólares, fosse pago em espécie, o que foi prontamente aceito pelos malfeitores, que nos alegrou pois nesta hora tivemos a certeza de estarmos tratando com “amadores”, pois se fossem profissionais teriam exigido deposito bancário em conta não rastreada (normalmente malfeitores se utilizam de conta poupança de banco público, que são abertas facilmente com documentos falsos).
Marcamos a entrega para a próxima noite, passamos a foto de uma mochila que conteria o valor exigido, e por exigência dos malfeitores ela seria deixada no interior da Catedral da Sé, aqui em São Paulo; em um determinado banco da catedral; às 20 horas em ponto, pelo nosso cliente Cesar que iria sozinho.
Tudo acertado, por volta das 19 horas, nos encontramos em nosso escritório da Baker Street, conferimos a mala e instalamos um rastreador portátil dentre os maços de notas que foram acondicionados na mochila; assim após a entrega poderíamos rastrear o dinheiro e localizar os malfeitores.
Fomos em dois carros, na frente o de uso do nosso cliente e atrás o nosso, com quatro agentes que nos auxiliariam na vigilância da mochila, na hora que os malfeitores a retirassem da Catedral.
Tínhamos de tomar o maior cuidado, e precaução, pois sabíamos que se os malfeitores desconfiassem que vigiávamos o local, toda a operação estaria perdida.
Adentramos paulatinamente, a Catedral e um a um nos posicionamos formando um largo quadrilátero ao redor do Cesar, três dos agentes vestiam-se como andarilhos para não chamar a atenção, a mochila foi deixada em um banco perto da entrada, onde não havia ninguém.
Cesar, cumprindo a ordem dos malfeitores se afastou do banco e após fotografá-lo e enviar a imagem aos malfeitores que aguardavam do outro lado do aplicativo, nesta hora o Cesar voltou e entrou em nosso veículo que o estava aguardando na porta.
Imediatamente após o envio das fotos; um adolescente aparentando uns 15 anos, vestindo moletom e capuz, passa rapidamente pelo banco e apanha a mochila e sai correndo da catedral, em direção à rua. Fechamos o quadrilátero para cercá-lo, mas para a nossa surpresa ela passa correndo por um carro de luxo Audi de cor branca e joga a mochila no seu interior ao lado do passageiro, o veículo sai em disparada, momento que nossos agentes perseguem e abordam o garoto ele não está mais com a mochila.
Retorno correndo ao nosso veículo e em companhia do Cesar e da minha assistente Miriam, ligamos o rastreador que estava no dinheiro, e passamos a seguir pelo rastreador o veículo Audi branco, para a nossa surpresa ele desloca-se para o bairro de Perdizes, onde reside nosso cliente, apressamos a marcha e percebemos que o veículo toma a direção, do Condomínio onde reside o nosso cliente.
Chegamos antes, e estacionamos na entrada do Condomínio, acompanhamos o deslocamento do veículo Audi pelo sistema de rastreamento, até avista-lo dobrando a esquina e postando-se a entrada do Condomínio, momento em que fechamos a entrada com o nosso veículo e abordamos o Audi; para a nossa surpresa quem estava dirigindo o carro era Anete, que diante da nossa abordagem ficou muito assustada, momento que o Cesar, tomou à nossa frente e abrindo a porta do carro, a tranquilizou, e nos reportou que fossemos embora que ele cuidaria de tudo, nossa participação estaria encerrada.
Fomos embora e no dia seguinte, sem nada dizer, o Cesar depositou os valores devidos em nossa conta bancária.
Soubemos dias depois, por este amigo comum que indicou o Cesar, aliás uma amiga querida que anos antes, havia disposto dos nossos serviços para descobrir a traição do ex-marido; que a Anete havia contratado um detetive particular que flagrou a relação de Cesar com a secretaria Telma, aliás relação que já durava dois anos, passou as provas e Anete decidiu tirar alguns dólares do traidor, e que depois de flagrada, não só, não devolveu os dólares como fez uma polpuda doação a uma instituição filantrópica e pediu a separação matrimonial do Cesar.
Quanto a nós, caso encerrado e verdade descoberta, e para a Baker Street, consciência tranquila.


FIM ...                 

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