21 – LEI DE AÇÃO E REAÇÃO - CONSCIÊNCIA
21 – LEI DE AÇÃO E REAÇÃO - CONSCIÊNCIA
Recordando mais um de nossos casos, este um pouco mais recente,
deu-se em 2015, quando ainda as águas de março fechavam o verão.
Mais um dia de trabalho na Baker Street, nosso escritório de
investigação particular, situado bem no coração do bairro do Tatuapé em São
Paulo, quando somos acionados para uma consulta com uma cliente que desta vez,
solicitou que a atendêssemos em sua residência, pois estava com problema de
saúde e tinha muita urgência em nossos serviços.
Marcamos as 14:00 hs, em um elegante condomínio residencial no
bairro do Ibirapuera em São Paulo, chegando ao Condomínio o porteiro nos
encaminhou ao apartamento de nossa cliente Lúcia que já na porta do elevador
privativo nos aguardava.
Após os cordiais cumprimentos, em companhia da minha assistente
Miriam, nos acomodamos em sua sala de visita; observamos uma elegante mulher,
aparentando seus 55 anos, abatida pelo problema que a seguir nos revelaria, em
nossas pesquisas iniciais que sempre realizamos antes de qualquer consulta
descobrimos que Lucia era ligada a um importante Hospital de São Paulo, médica
e administradora possuía seu nome ligado a atividades filantrópicas e já há uns
dois anos não mais exercia suas atividades profissionais.
Assim ela tomou a palavra, para explicar-nos o seu problema:
- Meu nome é Lúcia, tenho 56 anos, sou casada com Márcio há 8
anos, tenho duas filhas, ambas do meu outro casamento, cujo meu primeiro marido
faleceu em um grave acidente; e sinto que está ocorrendo algo muito estranho;
sou de família muito tradicional, e por problemas de saúde me afastei da
administração do hospital que minha família ocupa a presidência, há pelo menos
três gerações; mas este não é o caso, a realidade é que sinto que meu marido
Márcio, anda me escondendo algumas coisas, e é isso que preciso descobrir.
Após a exposição, nos contou que o seu marido Márcio, nada
possuí, agora, como antes do casamento, ele tem a profissão de chefe de
segurança de uma casa noturna, de onde retira parte de seus proventos que
utiliza somente para si, pois os encargos da casa e da família segue por conta
da Lucia que mesmo afastada do Hospital, por uma grave “depressão”, ainda
recebe uma boa quantia mensal do Hospital.
Contou ainda, que coisas muito estranhas ocorrem dentro da sua
casa, coisas mudam de lugar, ouve vozes a ameaça-la e suspeita que o espirito
do seu ex-marido esteja em conluio com o Márcio, para se vingar dela, pois seu
ex-marido Carlos morreu “de infarto” ao descobrir que ela e o Marcio eram
amantes; desconfiava ainda que Marcio tenha um caso amoroso com a babá das
crianças que se chama Rosana, uma mulher bonita de 35 anos e que cuida das duas
meninas que tem a idade de 10 e 12 anos.
A babá trabalha em sua casa das 09:00 as 18:00 hs; é casada e a
suspeita é que os encontros sejam à noite, no horário que o Márcio trabalha.
Um caso muito peculiar, muito interessante, visto que sempre em
nossas investigações usamos a “razão” e como dizia Sherlock Holmes “Uma vez
eliminado o impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser a
verdade”.
Assim realizados os procedimentos normais de contrato (valores e
contrato de serviços) passamos a investigação.
Nosso trabalho consiste em primeiro lugar é de fazer com que a
nossa cliente fique tranquila e confiante, sabendo que deste momento em diante,
não mais estará sozinha, e para que a investigação dê certo, é preciso que ela
siga as nossas orientações rigorosamente, e assim foi feito.
Em primeiro momento realizamos um levantamento da vida pregressa
de Marcio e soubemos que ele já havia sido processado criminalmente, e
inclusive ficara preso por dois anos pelo crime de haver facilitado uma ação de
roubo em uma empresa que trabalhava como segurança, a cerca de 10 anos antes,
fato que escondera da sua atual esposa Lucia.
Atualmente trabalhava como chefe de segurança de uma casa
noturna, era um sujeito muito agradável e comunicativo, andava ostentando um
automóvel BMW; e o detalhe que na realidade não trabalhava as seis noites que
dizia a esposa e sim quatro noites por semana.
Em posse destas informações nos reunimos com a nossa cliente e
uma vez que ele utilizava um aparelho celular, dado pela nossa cliente, optamos
por instalar no aparelho um programa espião, que nos apresentaria toda a sua
movimentação como, ligações, mensagens, localização, WhatsApp e redes sociais,
tudo de forma sigilosa e legal.
Investigamos ainda a babá, chamada Rosana, e descobrimos que ela
era casada, morava em um bom condomínio e seu marido atualmente não trabalhava,
apenas estudava, ou seja, vivia teoricamente o casal com dois filhos menores,
com o salário de babá, que não ultrapassava 4 mil reais, alguma coisa não
fechava nesta relação.
Em uma das noites de trabalho do Marcio a Lucia pegou seu
celular que ele pensou haver esquecido em casa, ela nos chamou e em minutos o
aplicativo espião já estava em pleno funcionamento.
Rapidamente descobrimos a relação do Marcio com a Rosana, que
inclusive ela o recebia na casa dela, no horário em que o marido ia para a
faculdade, pelo menos duas vezes por semana, além do fato dele depositar para
ela em conta corrente pelo menos 3 mil mensais.
Marcamos o seguimento e registramos todos os encontros amorosos,
bem como reunimos a documentação necessária para corroborar nossas descobertas
e marcamos com a cliente para discutirmos o trabalho.
Na hora aprazada, desta feita em nosso escritório da Baker
Street, Lucia se fez acompanhar de sua amiga e advogada do hospital nos
reunimos em uma manhã de terça-feira.
Após os cumprimentos cordiais, entregamos os relatórios e
iniciamos uma apresentação das imagens e vídeos que compunham o caso (incluindo
a performance do celular espião); nossa cliente Lucia, em determinado momento
teve de ser amparada pela minha assistente Miriam que enxergou em seus olhos
muita emoção, pois na realidade o seu marido Marcio não estava cometendo nenhum
crime, não havia atentado contra a sua vida ou das crianças, apenas estava
fazendo, desta vez, com ela, uma relação extraconjugal como da vez que a
envolveu, quando ela era casada.
Mas, precisaríamos ainda mais, com certeza não era somente uma
questão de traição conjugal, o casal malfeitor queria mais, agora precisávamos
confirmar as atitudes de Rosana, não só com as filhas do casal, mas também em
relação à própria Lúcia.
Sugerimos que a Lúcia, aguardasse e engolisse em seco a traição,
para juntos descobrirmos até onde o seu marido estaria envolvido, com relação à
casa e tudo mais.
Pedimos que ela no dia seguinte, solicitasse que a Rosana não
viesse trabalhar pela manhã, alegasse que no período da manhã ela receberia a
Advogada e não desejaria que ninguém estivesse presente na casa, ordem que ela
deveria passar apenas na hora que a Rosana estivesse já com a bolsa e seus
pertences prontos para sair naquele dia corrente, assim não haveria tempo dela
planejar e tão pouco mudar alguma coisa na casa.
No dia seguinte, logo após as crianças irem para a escola, fomos
para o apartamento da Lucia, fizemos uma busca geral (chamamos de varredura
interna) em todo o apartamento e encontramos duas câmeras escondidas com áudio
no quarto do casal além de retirarmos alguns remédios de Lúcia e encaminharmos
para análise em seu hospital.
Lúcia não desejava escândalo ou prisões, queria apenas saber se
o marido além de a trair, também estava envolvido no plano contra a sua
sanidade mental.
Optamos por fazer da maneira mais simples, descobrimos que as
câmeras gravavam por detecção de movimento, e estavam na rede WI-FI do
apartamento, assim no início da varredura sempre desligamos a rede e quando
constatadas as câmeras retiramos e acessamos o cartão de memória, onde as
imagens gravadas são processadas.
Como cada caso é único, ao analisarmos ali mesmo as imagens
contidas no cartão de memória, fomos surpreendidos pelos nossos dois suspeitos
que ao instalarem as câmeras ocultas, optaram por testar a câmera do quarto se
relacionando na própria cama do casal e ainda declarando aos gritos todos os
seus planos de enlouquecerem a Lúcia, pegar tudo que era dela e serem felizes
para sempre, ainda no meio do ato ela gritava o nome do marido chamando-o de
frouxo e molenga e exaltando a performance do Márcio.
Tecnicamente os malfeitores utilizavam-se das movimentações e
dos diálogos da Lúcia ainda dentro do apartamento para remexerem nas suas
coisas e o laboratório constatou ainda que seus remédios que apreendemos haviam
sido trocados em suas dosagens que possibilitava o quadro paranoico apresentado
após a ingestão dos remédios.
Lúcia ainda nos pediu que a auxiliássemos na conversa com a Babá
e o Márcio, e assim procedemos, ligamos para ambos e os chamamos para uma
conversa no apartamento, como a nossa cliente desejava.
Na chegada deles, estávamos aguardando no apartamento na
companhia de três seguranças pessoais, a advogada amiga Carla, todos no
escritório que Lúcia utilizava de casa.
Todos chegaram, sentamo-nos no escritório, o Marcio não parava
de perguntar se havia acontecido alguma coisa, intimidado com a nossa presença,
por fim sentou-se ao lado da Rosana e Lúcia, tomou a palavra:
-Chamei todos aqui para que assistam e tomem conhecimento de um
espetáculo – momento que liga um enorme monitor, instalado na parede e começa a
exibir a cena editada que encontramos gravada no cartão de memória de uma das
câmeras.
Ele tenta levantar-se, mas é contido pelos nossos seguranças que
ele observa estarem armados, tenta gritar, mas Lúcia manda que se cale, nesta
altura a Rosana começa a chorar, tampando o rosto com as duas mãos.
Toma a palavra a Dra Carla:
- Sr. Márcio e Sra Rosana, nem preciso listar os crimes que
descobrimos que vocês cometeram, contudo, a Sra Lucia tem algo a declarar,
espero que compreendam e façam o que ela disser.
- Decidi, que vocês dois são dois lixos, não acrescentam nada e
nunca acrescentaram nada na minha vida, então quero que simplesmente peguem as
suas coisas e saiam daqui agora, você Márcio meu companheiro da primeira
desgraça da minha vida, pode ir embora por que agora estou livre, se quiser
alguma coisa é só falar com a minha advogada, quanto à Rosana, você é uma vaca,
pega as suas coisas e nunca mais fale comigo, receba seus direitos trabalhistas
junto à minha advogada.
Momento que o Márcio e a Rosana ainda tentam falar algo para a
Lúcia e são advertidos com um grito, os seguranças o cercam e ainda os avisam
que eles deveriam sair, enquanto podem sair andando.
Confesso que até hoje, fomos surpreendidos pela elegância e
clareza da Lúcia, sabia ou tinha total consciência de sua posição e
importância, naquela hora pareceu que simplesmente jogava o lixo para fora da
sua vida.
Quanto aos barulhos ou a suspeita do envolvimento do seu finado
marido deixo a cargo dos leitores, em suas crenças, contudo após a revelação dos
acontecimentos meses depois nossa cliente e amiga, nos confidenciou que havia
melhorado muito e estava retomando as suas atividades profissionais, que ela
havia retomado o controle de sua vida.
Concluímos então, a verdade liberta e como nos dizia um grande
amigo:
“Não podemos apagar o passado, mas cabe a nós através dos nossos
erros e acertos construir um novo futuro!” – CHICO XAVIER
FIM.
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