07 - HISTÓRIA REAL – A VIÚVA NEGRA
07 - HISTÓRIA REAL – A VIÚVA NEGRA
O CASO DA VIÚVA NEGRA.
Manhã de uma quarta-feira, mais um dia normal de serviço,
vivíamos o ano de 2007; acabara de chegar ao meu escritório, apuro as ocorrências
cotidianas pois nesta época cuidávamos quase que exclusivamente do setor de
informações e fraudes de uma grande Empresa varejista em São Paulo, o que nos
tomava quase todo nosso tempo disponível de trabalho.
O rádio comunicador chama, era o diretor desta Empresa nos
convocando para uma reunião urgente no escritório Central, solicitava a nossa
presença imediata, pois ocorrerá um fato que ele solicitava nossos préstimos
profissionais.
Cheguei ao escritório do cliente por volta das 14 horas, fazia calor
pois estávamos em pleno verão de 2007, e após os cumprimentos percebi que na
sala também estava um rapaz chamado Claudio que era o proprietário de uma
Empresa que também prestava serviços a está Holding.
A Empresa do Claudio, iniciou suas atividades bem pequena e com
o passar de quatro ou cinco anos teve um crescimento altíssimo em seu
faturamento, ou seja, friso este acontecimento, pois falo de um trabalhador
simples que vivia com 20 mil reais/ano e num espaço de 4 a 5 anos passou a 250
mil/ano, contratou mão de obra e expandiu seus negócios.
Ali estava o Claudio sentado à minha frente aparentando trinta
anos, gordo e barbudo, cabelos maltratados e com diversos ferimentos, inclusive
usando uma tipoia no braço esquerdo.
Quando o diretor da Holding, meu amigo Antenor, um executivo
habituado a fraudes e desvios, contudo sem familiaridade com crimes contra a
pessoa, tomou a palavra e iniciou a apresentação do ocorrido:
-Lembra do Claudio, dono da Empresa que nos assiste em
transportes, e na data de segunda-feira, ontem, sofreu um atentado a
"tiros', foi alvejado com 5 tiros à queima-roupa na porta de sua casa, por
um motoqueiro desconhecido e de capacete; assim nos procurou, como amigos que
somos, gostaríamos que o auxiliasse na elucidação do fato, na qualidade de
força não oficial, mesmo porque só queremos a verdade!
Dizeres que foram completos pelo próprio Claudio:
-Quero uma completa investigação, não oficial, pois quero saber
a verdade do que me ocorreu, e não quero vinculá-la em nenhuma hipótese a
investigação policial que segue pela Delegacia especializada de Homicídios -
DHPP, ou seja, quero o compromisso que tudo o apurado seja somente a mim
reportado.
Assim foi acordado e uma vez estabelecidos os honorários tudo
ficou acertado com o Claudio, assim a Holding apenas fez a apresentação para
aceitarmos o caso e tudo mais apurado teria somente o interesse do empresário
citado.
Iniciamos já nesta quarta-feira o levantamento inicial através
de redes sociais e das lojas especificas que o Empresário cotidianamente
executava suas tarefas de transporte.
Pessoalmente nos concentramos em desafetos que o Claudio pudesse
colecionar dentre suas atividades pessoais e profissionais, porém nada foi
prontamente localizado, visto que ele era uma pessoa muito agradável e não
ostentava a posição que exercia dentro de sua Empresa.
Já com as entrevistas realizadas nas lojas, obtivemos a
informação que a “esposa” do Claudio, chamada Yara (aparentava 25 anos, loira,
alta olhos verdes) que exercia a função gerencial na Empresa, “frequentava” com
assiduidade uma das lojas da rede e possuía um estreito relacionamento com um
ex-gerente de loja de nome Wilson (25 anos, alto, forte), pessoa de caráter
duvidoso, que por coincidência, há cerca de 2 meses, nós, depois de uma
denúncia anônima, o surpreendemos em desvio de mercadorias, contudo por não
haver materialidade do caso, ele foi mandado embora da Holding “sem justa
causa”.
Passamos a intensificar nossas atenções para o casal Yara e
Wilson, que se encontravam diariamente passando tardes em um Motel da região
onde situava-se a Empresa de transportes.
Esses encontros amorosos foram registrados por filmagem e
fotografias, e a partir desta informação passamos a reconstituir a “linha do
tempo” em direção ao dia e hora do atentado contra a vida do nosso cliente.
Sem, contudo, dizer o motivo, pedimos que colocasse a nossa
disposição os “extratos” dos telefones e comunicadores NEXTEL utilizados por
seus funcionários no mês do atentado.
A partir daí, chegamos ao aparelho utilizado pela Yara, que
registrava inúmeros contatos com o Wilson, inclusive no dia da tentativa de
homicídio contra o Claudio, culminando com o fato de se falarem pela manhã por
vários minutos, a tarde cerca de 20 minutos antes do fato e depois cerca de 30
minutos após o fato, hora que inclusive a Yara aguardava o atendimento do seu
marido no interior do Pronto Socorro.
Rastreando as ligações do Wilson, na véspera do atentado pelo
telefone celular chegamos a um número pré-pago e descartável que supomos ter
sido utilizado pelos executores do nefasto plano.
Após a tentativa de homicídio do Claudio, o contato entre eles
se rareou e culminou com a súbita mudança do Wilson para outro endereço que apuramos
mais tarde ser no Estado de Minas Gerais.
Cerca de 20 dias após a contratação, marcamos uma reunião na
sede da Holding, para que pudéssemos expor o apurado tanto ao Claudio, quanto
ao Diretor que juntos havia nos colocado a frente dessa investigação.
Na hora aprazada estávamos todos aguardando a reação do Claudio
que, quando soubesse do apurado, e assim sucedeu-se:
Estávamos os três sentados na sala de reunião, olhares se
entretinham na espera das informações apuradas, como reagiria o Cláudio diante
dos fatos incontestáveis que estávamos prestes a expor?
Tomei a palavra e comecei a explicar e mostrar as fotografias e
filmagens bem como um relatório explicativo dos extratos telefônicos que
elucidavam as informações:
“A Yara teve um caso amoroso com o ex-gerente Wilson e este que
na ocasião era casado, fora demitido por desvio de mercadoria, ação que já
praticava há pelo menos 2 anos, após a sua demissão a sua esposa Regina sabendo
da traição do marido condicionou a permanência dele na família à sua mudança de
domicilio à cidade de Belo Horizonte MG, onde sua família residia e ele
trabalharia na loja do seu sogro; inconformada com a sua separação iminente do
Wilson a Yara arquitetou o plano de assassinar seu esposo e colocar o Wilson na
gerencia da Empresa que ela dirigiria, uma vez que o Claudio era sócio
majoritário da Empresa com 98% de sua propriedade e ela, além de sua esposa
possuía outros 2%; além do fato de ela haver realizado um seguro de vida do
Claudio no valor de R$500 mil sendo ela a única beneficiária.
Após a explicação concluí:
-Claudio, após as informações observadas concluímos que se faz
necessário chamarmos a sua esposa Yara para que esclareça nossas apurações, se
for de sua vontade acionaremos equipes do DHPP para levá-la a prisão juntamente
com o Wilson que se encontra em Belo Horizonte MG, cujo endereço já possuímos e
com certeza podemos deitar a mão sobre ele assim que quisermos.
Ele tomado de forte emoção, espalmou as mãos sobre a cabeça e
após alguns segundos respirando fundo olhou para nós e disse:
-Não quero providências!!! - Não imaginam para mim o que é saber
destes fatos, pois amo muito minha esposa e não sei o que fazer, preciso falar
com ela a sós, aí então saberei que fazer, daremos este caso como encerrado e
se precisar de mais alguma coisa lhes comunicarei agradeço o seu empenho e
conto com seu sigilo profissional e seu silêncio amigo.
No mesmo instante levantou-se e saiu rapidamente da sala, eu e o
Diretor apenas nos entreolhamos e respeitamos a posição do nosso amigo.
Passados oito meses do ocorrido encontrei pessoalmente a pessoa
do Claudio dentro das instalações da Holding e ele estava acompanhado da sua
esposa Yara, e ela prestes a dar à luz. Ao ver-me aproximou-se e fez questão de
dizer que estava muito bem e havia acertado as contas com ela e tudo que
ocorreu já era passado e ela em breve lhe daria um filho que seria o maior
sonho de sua vida.
A vida continua, assim passados cerca de 2 anos pelos meandros
de 2010, fomos convocados pela Diretoria desta Holding a fim de analisarmos e
editarmos algumas imagens que constatavam a presença do Claudio na noite do dia
15 de março acompanhando a entrega de mercadorias em um dos seus depósitos, em
um determinado horário.
Ao questionarmos a utilidade das referidas imagens fomos informados
que elas seriam entregues a DHPP (Delegacia Especializada em Homicídios), pois
havia ocorrido nesta data o homicídio do Carlos (pai do Cláudio, assassinado a
noite quando saia de um bar por um motoqueiro com 5 tiros à queima-roupa) e por
haver um seguro de vida no valor de R$300 mil as imagens seriam entregues a
seguradora que suspeitava de fraude para o pagamento da indenização.
A partir deste acontecimento passamos, mesmo sem contrato legal
a acompanhar os acontecimentos referentes ao casal Claudio e a Yara e
constatamos os seguintes fatos:
Quando da expansão da empresa o Claudio, que até então era um
trabalhador comum, passou a chamar atenção inclusive da família, pelo status
que havia adquirido como sitio, casa na praia e uma lancha, com isso foi possível
a aproximação de seu pai de nome Carlos que havia abandonado a família há mais
de 20 anos e que reaproximou-se da família iniciando uma relação de amizade com
a sua esposa Yara, inclusive a auxiliando na expansão financeira e no contato
com Bancos, em um destes contatos, inclusive a Yara realizou um seguro de vida
no valor de 300 mil reais, tendo o filho Cláudio como único beneficiário.
Mesma cena, mesmo modo, por certo a Yara guardaria alguns
contatos ainda, recordo que logo após a nossa descoberta da tentativa de
homicídio com o Claudio, cerca de um mês depois em companhia do meu amigo
Antenor, em uma investigação em um dos nossos depósitos de mercadoria da
Holding, encontramos com Yara, ela nos viu e se aproximou nos cumprimentando
com beijos e sorrisos, ao certo que após o encontro nem me recordo quem de nós
dois mais correu neste dia em direção à saída do depósito.
Cerca de um ano depois, soubemos que a Empresa do Claudio havia
sido desligada da Holding, ele havia enfim, recebido judicialmente a
indenização referente ao seguro do seu pai.
Passados alguns meses depois, em um shopping center avistei a
Yara e o Claudio passeando de mãos dadas e empurrando um carrinho com um bebê e
outra criança, correndo em volta, e assim concluímos que a vida continua!
FIM...
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