23 - "CRIME COSMÉTICO".
23 - "CRIME COSMÉTICO".
Revisávamos algumas operações em nosso escritório Baker Street
no bairro do Tatuapé em São Paulo, no mês de março de 2014, quando as águas de
março fecham o verão.
Em uma tarde muito típica, com muita chuva, somos indagados,
como sempre, com um telefonema de um Empresário do ramo de cosméticos que
estava muito aflito com alguns acontecimentos que surgiam em sua vida, marcamos
assim uma consulta que passamos a descrever:
Minha assistente Miriam atende ao telefone e agenda
imediatamente uma consulta para a mesma hora, devido ao estado de aflição que o
Senhor Milton apresentava, rapidamente colheu alguns informes do nosso futuro
cliente que tratamos de pesquisar antes da hora aprazada e descobrimos que o
Senhor Milton era sócio proprietário de uma indústria de cosméticos paulistana
no bairro do Brooklin, casado, 45 anos de idade e com uma história sólida no
mercado de cosméticos paulista, o identificamos através das redes sociais e na
hora marcada o recebemos:
Após as apresentações cordiais, percebemo-nos diante de um
Empresário, na meia idade trajando roupa esporte de marca famosa, denotando
muita tristeza e apatia; entrega-se a poltrona oferecida e deixasse abater por
uma profunda crise, que represava já algum tempo; tentamos consola-lo
oferecendo uma bebida para encorajá-lo este a aceitou de imediato e iniciou a
sua narrativa:
-Meu nome é Milton sou empresário, casado com Claudia a minha
segunda esposa com quem casei há 4 anos, temos uma filha de 2 anos, pois fiquei
viúvo do primeiro matrimonio há quase cinco anos, Claudia era muito amiga de
Mariana minha primeira esposa, aliás cresceram juntas e eram amigas de
infância, mais enfim a cerca de 2 meses eu pessoalmente desenvolvi; aliás sou
químico de profissão, uma nova formula de um cosmético que tende a fazer muito
sucesso no mercado e comecei a realizar os testes projetando o lançamento
nacional, tencionava realizar em grande estilo, quando para minha surpresa um
outra Empresa concorrente chamada “Belasis” adianta-se e lança um produto
“idêntico” tanto na sua formulação quanto em seus resultados estéticos!
-Então estamos diante de um caso de “espionagem industrial”? –
Indaguei – apenas isso?
-Não, absolutamente não, antes fosse somente isso, o pior é que
somente duas pessoas tinham acesso a minha formula, um dos meus sócios de nome
Roberto e minha esposa que também é química e trabalha comigo na indústria,
quando soube do lançamento pela Empresa concorrente fiquei cego de raiva e
resolvi tirar a limpo esta história chamei a ambos em minha sala e fechando a
porta parti ao ataque querendo e exigindo satisfações sobre a conduta deles em
relação à empresa concorrente que obteve a formula; Roberto e Claudia já amigos
de muitos anos, desde tempos de
faculdade, com Mariana e após nosso casamento sempre tive muito ciúmes desta
relação de amizade. Eu gritava na sala questionando a lealdade de Roberto,
quando Claudia passou a defende-lo, momento no qual peguei-o pelos colarinhos e
o agredi com socos e dizendo que ia mata-lo; joguei-o fora da sala, gritando
que ele estava despedido e mandando a segurança o levar para fora da Empresa.
Claudia não acreditando no que presenciara saiu imediatamente da
sala e foi para casa, horas mais tarde me mandou mensagem por telefone dizendo
que iria repensar nossa relação passando alguns dias na casa de sua mãe levando
nossa filha.
Mais não é tudo, Roberto ao ir embora da empresa, no caminho de
sua casa foi surpreendido por supostos ladrões que o assassinaram a tiros em
uma tentativa de roubo, não preciso nem lhes dizer que acabo de prestar
depoimento na Delegacia de Homicídios; e que a polícia, me tem como suspeito de
ser mandante do crime, assim preciso que descubram o que realmente aconteceu.
Posso ser preso a qualquer momento inclusive pelo depoimento de
Claudia que além de me acusar da morte de Roberto ainda me proíbe de ver minha
filha e de qualquer contato com ela.
Estou desesperado vocês podem me ajudar?
-Milton, o que nos relata é muito sério, precisamos investigar
como o concorrente teve acesso a sua formula e em paralelo a forma como se deu
a morte de Roberto para podermos inocenta-lo da acusação e assim reaproxima-lo
da sua esposa, mais antes precisamos saber absolutamente a verdade de seus
lábios, para tanto invocamos a confidencialidade entre detetive e cliente,
assim lhe perguntamos: -Você teve algo a ver com a morte de Roberto?
- Não de forma alguma jamais tiraria a vida de alguém, nem por
todo dinheiro deste mundo! –Assegurou Milton.
Assim procedemos a nossa contratação para assumir este caso e
findo as tratativas formais iniciamos as nossas investigações pela Empresa
beneficiada com o lançamento cosmético.
Tratava-se de uma Empresa de médio porte, contava com cinco
sócios, destes três eram apenas investidores, ou seja, apenas o casal que vamos
chamar André, 35 anos administrador de Empresas e sua esposa Vanda, 37 anos
graduada em química e com muita experiência em cosméticos, casados há 17 anos
trabalhavam na empresa, após avançarmos nas investigações destas duas pessoas
chegamos a um advogado da Empresa de nome Hélio, um rapaz jovem de 28 anos
especialista em recuperação de ativos e investimentos financeiros, que o
investigando apuramos que ele havia trabalhado na Empresa do Milton por dois
anos e tinha sido demitido após rumores de uma relação conturbada homo afetiva
com Roberto (na época ainda casado com sua ex- esposa Márcia, segundo
informações internas ele teria sido pivô da separação) sendo contratado meses
depois pela Empresa Belasis.
Assim concentramos a nossa investigação no advogado Hélio, e
descobrimos que, há pouco havia se reconciliado com sua ex-esposa Márcia; e
haviam se mudado para um apartamento de alto padrão no bairro do Tatuapé em São
Paulo, adquirido carros de alto padrão; e sua vida atual não era nem sombra do
apartamento simples no bairro da Penha, que habitavam quando do seu primeiro
casamento.
Em posse destas informações, contatamos nosso cliente, e
agendamos uma reunião na Baker Street; para tratarmos do desdobramento da
investigação.
Na hora marcada recebemos o Sr Milton, e passamos a descrever o
que apuramos e obtivemos a seguinte reação:
-Não é possível; o Hélio trabalhou muito bem conosco, saiu
apenas após a sua separação, excelente profissional, muito prestativo,
deixou-nos somente após um escândalo que sua ex-esposa fez; no nosso escritório
alegando um envolvimento dele com o Roberto, que embora nunca tivesse dado
“pinta” todos sabíamos que era gay.
Mesmo depois da sua saída, que aliás, foi muito amigável,
continuou a se relacionar com Roberto, isso todos nós sabíamos. – Concluiu.
-E o senhor sabe o porquê de eles haverem rompido o
relacionamento? – Perguntei.
-Bem, fato é que eu nunca tive intimidade com o Roberto,
falávamos apenas de trabalho, como disse anteriormente, ele dava-se muito bem
com minha esposa, mas em conversas intimas ela me revelou que após a separação
de Hélio com a esposa; Roberto possuía o desejo de vir a “morar” com Hélio, o
que também não ocorreu, pois ele não tinha certeza da sua opção sexual, o que
deixou o Roberto muito triste; agora para o Hélio estar envolvido na morte do
Roberto, aí nem eu acredito. – Concluiu o Senhor Milton.
Concluímos que a partir de então deveríamos concentrar nossos
esforços, no casal Hélio e Márcia, para evidenciarmos a sua ligação com os
proprietários da Empresa concorrente; e assim se descobrirmos como a fórmula
veio para a Empresa, também descobriríamos os assassinos de Roberto.
Concentramos nossa investigação, exatamente na semana de
lançamento da fórmula pela empresa Belasis, com o auxílio da Delegacia
Especializada de Homicídios; traçamos a ligação entre os contatos telefônicos
(que incluíam os locais da onde foram realizadas as chamadas) de Hélio / Márcia
e André / Vanda.
Na data especifica que antecedia o lançamento da Fórmula,
rastreando os telefones com os respectivos locais de chamada, concluímos que
Hélio e André, foram a um jogo de futebol com amigos no Estádio do Morumbi,
informação ratificada em rede social com a foto de ambos torcendo pelo seu time
São Paulo F.C.
Suas respectivas esposas, notadamente disseram a eles que os aguardariam
juntas no apartamento de Márcia, inclusive postaram detalhes do jantar também
na rede social;
Contudo, momentos antes do início do jogo, o extrato pessoal do
telefone de Márcia e Vanda, marcavam ligações recebidas justamente de Hélio e
André, e para nossa surpresa; ambas estavam no endereço do apartamento do
Roberto.
Investigando no Condomínio de Roberto, apuramos que ambas foram
visitar o Roberto, nesta noite, chegando lá por volta das 20:00hs e saindo
pouco antes das 23:00hs; o que nos levou a interrogar informalmente o porteiro
do condomínio que nos segredou o seguinte fato:
- Amigão, se você soubesse o que eu já vi, aqui neste prédio, é
de cair os cabelos, nesta noite mesmo que o senhor pergunta, as duas mulheres
que vieram aqui no apartamento do seu Roberto, estavam muito bem vestidas, e
ele quando usei o interfone, mandou que elas subissem e que eu acendesse as
luzes externas do prédio que auxiliam na iluminação da piscina da sua
cobertura; aí meu amigo, não que eu faça isso sempre, mas não pude resistir;
deixei o Orlando aqui no meu lugar e fui atrás da sala de máquinas, peguei o
meu binoculo e fiquei só olhando, porque todo mundo dizia que seu Roberto era
“bicha”, mais não foi isso que eu vi lá não; nadaram os três peladinhos e se
pegaram naquelas cadeiras que deu até gosto; eu sempre disse que ele era do
estilo disfarçado.
Diante do exposto não nos foi difícil concluir que se a fórmula
saiu da Empresa foi pelas mãos do Roberto, mas ainda nos restava a dúvida de o
porquê ele daria uma descoberta destas para outra Empresa?; a formula teria
sido roubada de Roberto?; nossos quatro protagonistas estariam agindo de comum
acordo?; estas e outras perguntas ainda haveriam de serem esclarecidas em nossa
investigação.
Intensificamos a vigilância em Márcia e Vanda e descobrimos que
elas; além de falarem-se a toda hora também saiam escondidas para encontros no
meio da tarde, enquanto seus maridos trabalhavam normalmente, fato que apontava
para que eles talvez desconhecessem a maneira pela qual a formula tivesse vindo
para a Empresa; assim optamos por através da Delegacia de Homicídios, intimar
somente André para que prestasse esclarecimentos sobre a morte de Roberto,
claro que sabíamos que ele se faria acompanhar pelo seu amigo e funcionário e
advogado Hélio.
Preparamos tudo para no dia e hora marcada, apresentarmos nossa
investigação particular que retratava os encontros de Márcia e Vanda em Motéis
e Hotéis de luxo da capital paulista; assim no horário marcado estávamos como
consultores da Polícia na sala de interrogatório do Departamento de Homicídios,
no encontro que assim transcorreu:
-Boa Tarde; Sr. André; Dr Hélio; sabem o que os trazem até aqui?
– Perguntou o Delegado Gaspar, encarregado da investigação.
-Boa Tarde, prosseguiu o André, sabemos vagamente, em que
podemos ajudá-los?
-Primeiramente gostaria que nos esclarecesse; se conhecia o Sr
Roberto de Pádua?
-Sim nós o conhecíamos e ficamos muito surpresos com a sua
morte, pelo que ouvimos dizer tratou-se de uma tentativa de roubo? não foi?
-Exatamente isso que estamos apurando, contudo gostaria que nos
esclarecesse alguns pontos; vocês têm ciência que o Dr Milton os acusa de
plagiar a formula cosmética que lançaram nos últimos meses, esta formula teria
saído da Empresa dele pelas mãos do Roberto e posteriormente lançada pela sua
Empresa, o que nos diz deste assunto?
- Isso é um absurdo, minha esposa Vanda desenvolveu esta
fórmula, dentre outras que lançamos no mercado, sempre com muito sucesso, ela é
uma profissional de muito sucesso e competência; não podem nos acusar disso! –
Exclamou André.
-Com certeza, ainda não podemos acusá-los, mas gostaríamos de
saber se tem ciência dos encontros furtivos que ocorriam entre Márcia, Vanda e
Roberto na ausência de vocês, ou melhor os encontros entre Márcia e Wanda que
após; a morte de Roberto; continua ocorrendo às vossas costas? – Perguntei ao
mesmo tempo em que lançava a mesa todo o material fotográfico que possuíamos
sobre os encontros citados.
Neste instante pudemos observar, o retrato do desespero e do
desapontamento de ambos os interrogados, que ao observarem as fotos deixaram-se
cair sobre as cadeiras, e aos nossos olhos era como se Dr Hélio, sentindo a
emoção do seu relacionamento abruptamente terminado com o Roberto, sentisse a
presença do amigo a lhe inspirar a declaração que daria a seguir.
Hélio, tomado de forte emoção apoiou as mãos sobre a mesa e em
gesto continuo segurando seu rosto passou a declarar em alto e bom som:
- Eu sempre desconfiei de Márcia, ainda mais quando terminamos
nosso relacionamento, pelo meu envolvimento com Roberto, ela ficou muito
irritada, descontrolada, na época fez inúmeras ameaças, questionando minha
opção e meus sentimentos, jurou que se vingaria, estranhei que alguns dias
depois ela me procurou e pedindo nossa reconciliação, eu ainda estava muito
abalado com a forma que tive de sair do meu antigo trabalho e pensei que ela
realmente havia mudado, se bem que ... – ato que interrompeu o desabafo.
-Por favor não pare, como advogado você sabe que rumo tomarão as
investigações, peço que continue – disse olhando em seus olhos.
-Sim vou continuar, na noite que Roberto morreu, na suposta
tentativa de roubo, a Márcia, saiu de casa para encontrar com a Wanda, para
discutir seu relacionamento comercial com a nova Empresa, e tenho certo que ela
teria saído com um conjunto preto de saia e blusa, quando retornou por volta da
meia-noite trajava um terninho preto; falei a ela; que veio com a conversa de
que eu não a olhava e por isso nem sabia o que ela usava; assim não voltei ao
assunto contudo por curiosidade olhei em seu guarda-roupa e não mais encontrei
o referido traje; alguns dias depois encontrei este traje sujo de sangue
escondido na lavanderia, peguei e o escondi, alguma coisa me dizia que deveria
guarda-lo. – Concluiu
-Mas você ainda tem a roupa? – Perguntou o delegado Gaspar.
-Sim a tenho guardada lá em casa, prossegui o Dr Hélio.
Ato que o delegado, encaminhou uma equipe de investigadores, em
companhia do Dr Hélio, a sua residência para em posse do traje, poder ligar a
Márcia ao homicídio do Roberto.
Em seguida a justiça tomou o seu rumo; Márcia foi intimada; o
sangue em sua roupa era mesmo de Roberto e acabou por esclarecer que na noite
do crime havia se encontrado com Vanda e Roberto e ele disse que revelaria a
todos que a formula foi roubada por elas, de seu apartamento, acabaram por
discutir e a Vanda, a levou a uma Boate no centro de São Paulo onde contrataram
dois homens, por 30 mil reais, para matar o Roberto e simular uma tentativa de
roubo; as duas marcaram um encontro com o Roberto em uma praça, segundo elas
seria para retratarem-se e devolver os direitos da formula, ato que ao
chegarem, foram surpreendidos pelos autores, que segundos antes de efetuarem os
disparos Roberto teria se agarrado a Márcia para protege-la, motivo pelo qual
evidenciou-se as manchas de sangue na roupa de Márcia.
Os dois homens foram localizados pela polícia e presos e
confirmaram a versão de Márcia.
O Sr Milton, nosso cliente, por intermédio de seus advogados,
acabou por realizar um acordo com o André sobre o produto lançado e por fim
encontrou um certo alívio com a plena verdade apurada.
Naquele dia das revelações, confesso que deixarmos o DHPP
(Departamento de Homicídios) em São Paulo, encontrávamos em um lindo final de
tarde, onde o sol baixando sob o vale do Anhangabaú retratava uma paisagem
diferente da correria do dia a dia paulistano, como se a cidade fosse tomada
por uma beleza singela, como se Roberto enfim pudesse despedir-se desta
metrópole em paz, entre os erros e acertos encontrando a Paz para recomeçar.
Quanto a nós? Mais um caso encerrado.
FIM.
Comentários
Postar um comentário