02 -UM NOVO CASO - MÍDIA SOCIAL
2 -UM NOVO CASO - MÍDIA SOCIAL
O mês é fevereiro, e vivíamos o ano de 2017, penso que a
sociedade despertava para a influência das mídias e redes sociais, o Facebook
tornava-se vitrine dos acontecimentos e refletia como espelho as vontades e
desejos de toda uma sociedade. As pessoas, principalmente acima dos 40 anos,
deslumbravam-se com a vida social digital, poderiam conversar, namorar e até
mesmo se envolver, sem precisar ficarem horas à tela de um computador ou
notebook, bastaria apenas um único “celular”.
Exatamente quando os malfeitores e golpistas, se especializam em
“golpes” virtuais, escolhem as vítimas, sempre pessoas sozinhas e carentes, e
as envolvem, percebam que digo pessoas, pois um “bom” golpista, sabe muito bem,
ser homem e mulher, ele diz a vítima exatamente o que ela “sente” ou ainda quer
sentir, e saibam vocês que as vítimas, nestes casos, não tem idade, gênero ou
classe social; escondem-se, ou melhor habitam o silêncio das paredes nos
íntimos pensamentos, no interior dos nossos lares.
Colocado a atmosfera que nos envolvia nesta época, vamos à
história.
Mais um dia de trabalho na Baker Street, nossa elegante agência
de investigação particular, bem ali, no coração do charmoso bairro do Tatuapé,
na capital paulistana.
Desta feita, recebemos a solicitação de nossa cliente, pelo
aplicativo WhatsApp, eu sou o Amauri, como detetive grisalho e cinquentão,
ainda me acostumando com as modernidades, fazia o possível para atender a nova
cliente pelo aplicativo.
-Bom dia, somos a Baker Street, como podemos ajudá-la?
-Aqui é a Dona Marisa, quero informações sobre investigação. –
Completava D. Marisa pelo aplicativo.
Já meio sem paciência, devo confessar, fiquei pensando o que
mais uma pessoa que busca uma agência de investigação particular, pelo
aplicativo poderia querer ao nos chamar? Mas engoli a seco, e perguntei em
seguida se poderia ligar para ela a fim de esclarecermos nosso trabalho e
detalhes sobre o problema que certamente a afligia.
-Boa Tarde, aqui o Amauri da Baker Street, como podemos
ajudá-la? – iniciei a conversa.
-Boa Tarde, aqui quem fala é Marisa, peguei seu anuncio na
internet, e preciso de sua ajuda, vou explicar rapidamente, sou advogada, tenho
58 anos, viúva há 07 anos, tenho uma filha que mora na Irlanda, e moro sozinha,
aqui em meu apartamento, em um condomínio novo, no centro revitalizado de São
Paulo; conheci um homem, por um aplicativo da internet, ele se chama John
Wesley, mora na Califórnia nos EUA, e possui uma agência de carros, conversamos
muito pelo aplicativo, já há pelo menos um ano, ele é elegante e charmoso,
neste tempo percebi que temos muito em comum, e nesta última semana ele foi
forçado a fazer uma viagem de negócios para a China, inclusive ao voltar da
China ele iria passar aqui em São Paulo para juntos irmos para sua casa na
Califórnia-EUA; mas surgiu um fato novo, que está me apavorando, por isso te
procurei, será que podemos conversar, eu não costumo sair muito de casa, o Sr
poderia vir aqui para que eu pudesse lhe inteirar de todos os fatos e contratar
os seus serviços.
-Sim claro – Completei e passei a ligação para a minha
assistente concluir o endereço e o horário para a consulta.
Dia seguinte, era um sábado e logo cedo fomos ao apartamento da
cliente para a reunião; marcamos para as 11 horas.
Chegamos exatamente no horário marcado, no local um belo
condomínio do centro revitalizado de São Paulo, fomos anunciados e convidados a
subir, era um apartamento pequeno, mas muito bem decorado, até mesmo com um
padrão bem confortável, chegamos e fomos prontamente convidados a entrar, nos
recebeu uma bela senhora, morena alta, com olhos um tanto inchados, que por si
só, revelavam uma noite em claro e um semblante muito aflito.
Nos convidou para entrar, eu e minha assistente, observando que
nestes casos, procuramos sempre que possível realizar o atendimento em dupla,
para consolidar a história e ao mesmo tempo tranquilizar nossos clientes quanto
a seriedade dos nossos atendimentos e demonstrar nossa preocupação em melhor
atender e resolver o caso.
Nos recebeu em sua sala de estar, abriu seu notebook, e começou
a narrar os acontecimentos:
-Como lhe disse pelo telefone, sou viúva, já há 7 anos e moro
sozinha, digo isso, pois na realidade eu não devo nada a ninguém, sou dona da
minha vida; enfim eu conheci um homem pela internet em um site de
relacionamentos, ele se chama John Wesley, como já te disse, ele mora na
Califórnia -EUA, é comerciante tem uma sólida agencia de automóveis e foi,
nesta última semana fazer uma viagem para a Pequim na China, à negócios e ele
me contatou há dois dias dizendo que os seus negócios haviam fracassados e que
ele estava em poder de malfeitores que confiscaram inclusive seu passaporte até
que ele saudasse uma dívida de 50 mil dólares; mas que eu não precisava me
preocupar com isso, pois ele tinha outros negócios em outros países e iria
transferir o dinheiro assim que conseguisse liberar a quantia, contudo ele
tinha uma filha adolescente de 15 anos, que estava em sua casa na cidade de
Sacramento no Estado da Califórnia – EUA, que como ele não poderia mandar dinheiro
para ela, que estaria passando necessidades e precisando de 2 mil dólares, se
eu poderia emprestar essa quantia, transferir para um brasileiro que é
empregado dele, e que se encarregaria de dar a quantia para a filha dele, e
assim que ele viesse me encontrar aqui em São Paulo, me restituiria a quantia
com juros, ele me passou todos os dados das contas bancárias e contatos.
Como este pedido me surpreendeu e me desapontou, de certa forma,
eu não emprestei o dinheiro imediatamente, com isso ele se demonstrou muito
nervoso dizendo que eu não confiava nele, que a filha estaria passando
necessidades, que eu não confiava nele, e desde ontem ele desligou telefone e
não me atende mais, apenas um outro rapaz de nome Lebron Jhonson, me contatou
via whatsapp e insistiu para que eu o auxiliasse, pois segundo este rapaz, John
estaria apaixonado por mim, mais em uma situação muito difícil, e não desejava
mais falar comigo. – Momento que se deixa cair sob a mesa em um pranto de dor e
de tristeza.
Disse ainda, que finalmente um outro rapaz de nome Charles, a
procurou, também pelo aplicativo e se apresentou como “amigo” do John,
inclusive disse que o hospedava toda vez que ele vinha ao Brasil e que “ele”
era real e uma pessoa muito boa.
Eu e a Miriam, a minha assistente tentamos consolá-la, e nos
comprometemos a descobrir toda a verdade, e esclarecer definitivamente o que
estaria acontecendo.
Sabíamos que no seu íntimo, Marisa desejava que tudo isso fosse
a verdade, que afinal poderia encontrar pela primeira vez este homem, estranho
e conhecido, pois habitava já há meses seus sonhos e desejos.
Realizadas as tratativas de contratação, passamos a investigação
propriamente dita.
Em posse de todos os dados, começamos pelo perfil social do Sr
John Wesley, ele com 56 anos, disse ser viúvo também, nestes casos a primeira
coisa que fazemos é obter uma prova de vida, eu explico, pesquisar em outras
redes, não somente na social informada, mas também outros acontecimentos que
envolvam nosso investigado, a filha, família, e tudo mais que nos transmitisse
alguma outra prova de vida.
Nesse quesito nenhuma informação foi encontrada.
Sobre seu negócio, a sua loja de veículos, que ele havia
apresentado a Marisa, descobrimos que se tratava apenas de um site, com fotos
montadas e informações pré-definidas, colocado no ar alguns dias antes da nossa
cliente conhecer o personagem, verificamos o local real, e constatamos que
tratava-se de um galpão abandonado.
Como o personagem, a filha e suas fotos postadas também eram
fictícias, eu explico.
As fotos, tanto do John como da filha, seu empregado e amigos,
eram bem-criadas e dispostas com exímio bom gosto, chegando a criarem mais de
100 personagens entre africanos, americanos e até mesmo outros imigrantes que
habitavam ou visitavam a cidade de Sacramento, e outras cidades dos EUA e de
outros países europeus.
Todos os personagens envolvidos eram pessoas comuns, nenhum de
beleza cinematográfica que nos indicasse a fraude só em observar, quase todos
possuíam uma história de vida, breve mas grosso modo real.
Os números dos telefones informados pelo malfeitor eram
americanos e estavam cadastrados em nomes de astros famosos americanos, com
número de documentos autênticos e endereços famosos, por exemplo, o rapaz que
ele disse ser seu empregado era o astro do basquete profissional Lebron James e
o endereço de sua rica mansão.
Rastreamos o número informado do amigo Charles, brasileiro e
descobrimos que seu nome verdadeiro era Carlos de Oliveira, um falsário
conhecido e com um histórico criminal de vários crimes, residia atualmente na
periferia de Campinas SP.
Uma vez relatada, às nossas descobertas, chamamos nossa cliente
para explicar às nossas conclusões.
Como nossas explicações eram robustas e pautadas em provas,
D.Marisa, mesmo muito decepcionada, acabou por compreender e se conformar com a
não existência do John Wesley.
Quanto a nós da Baker Street, ficamos imaginando se este
malfeitor Carlos, utilizasse toda esta astúcia e inteligência que demonstrou,
durante todo o tempo que planejou o famigerado golpe, para trabalhos de arte e
histórias do bem, ao invés de perturbar a mente e a imaginação das pessoas, com
certeza escreveria outra à história da sua vida.
FIM ...
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