13 - NEM TUDO É O QUE PARECE!




13 - NEM TUDO É O QUE PARECE!



Mais uma tarde de trabalho na Baker Street, nosso simples, discreto e aconchegante escritório de investigações particulares bem no coração do charmoso Tatuapé em São Paulo. Vivíamos o mês de julho de 2016, alguns casos em andamento, mas este em especial traz-nos a memória um problema, que mesmo parecendo banal à primeira vista, esconde uma triste realidade que com certeza algum dia poderá bater à porta de qualquer um de nós.
Fomos contatados por um casal, ele o Fábio, sessenta e um anos, professor de economia graduado e doutorado, hoje aposentado, e a sua esposa Sonia uma bela mulher de sessenta anos advogada e aposentada do serviço público.
Marcamos uma consulta em nosso escritório, para que pudessem expor o seu problema a ser investigado, e na primeira hora de uma quarta feira iniciamos assim a consulta:
Após as apresentações, demos a palavra ao Fábio que assim narrou o seu problema:
-Temos uma filha chamada Tamara, ela tem 30 anos, é formada em Direito, advogada com registro na Ordem e tudo mais, ela tem uma filhinha, nossa neta, de dois anos, e há cerca de 6 meses terminou seu casamento de dez anos, e veio morar conosco em nosso apartamento aqui no Tatuapé, o rompimento com seu ex-marido foi muito difícil, ele é ex-presidiário e foi um antigo cliente do escritório que ela trabalhava; Hoje trabalha com vendas e está muito bem de vida, exceto de caráter, pois desde o rompimento sequer visitou a filha; mas enfim, esta não é a nossa preocupação, desde que veio morar conosco, posso dizer que veio “com uma mão na frente outra atrás”.
Tamara havia parado de trabalhar e desde o nascimento da filha dedicava-se exclusivamente à sua criação, até ai tudo bem, embora aposentados possuímos financeiramente uma vida confortável e jamais cobraríamos nada de nossa filha ou deixaríamos algo faltar a nossa netinha. Depois de instalada e bem instalada em nosso apartamento Tamara colocou a filha em uma escolinha, e dedicou-se a procurar um emprego como advogada, após quatro meses procurando uma colocação, ela foi tomada por muito desânimo e embora insistíssemos em colaborar financeiramente ela nunca aceitou a nossa ajuda; e na segunda feira da semana passada, ela saiu à tarde, depois do almoço e retornou após as 18 horas, em companhia da filha e nos disse que havia arrumado um emprego em uma corretora de valores no centro da capital; ai entra o mais estranho e o que nos tem tirado o sono e a tranquilidade, ela nos deu um nome de Empresa, mas negou-se a fornecer o endereço ou telefone, dizendo que não podia receber pessoas pois seu trabalho é muito concentrado, contudo em algumas tardes leva a nossa neta para trabalhar com ela; diz que não é registrada e seus ganhos variam com seu trabalho, mas minha esposa pegou o seu celular com o aplicativo bancário e notou que ela deposita diariamente algo em torno de quinhentos reais; assim chegamos a 10 mil/mês, por mais que insistíssemos não diz onde trabalha e diante de nossas perguntas até ameaçou se mudar e levar a nossa neta.
Estamos desesperados em saber a verdade, ela realmente trabalha? O que ela faz? Por que leva a menina constantemente ao trabalho? O que está acontecendo com ela? Meus amigos são a estas perguntas que preciso que respondam, mas já adianto ela é muito esperta e astuta, não será fácil segui-la ou descobrir; eu mesmo já a segui, ela deve ter desconfiado e ao estacionar o carro no Shopping Light desapareceu entre as pessoas.
- Sim compreendo – tomei a palavra, você sabe se ela tem amigas ou namorado?
- Amiga sim, aliás a nossa sobrinha Aline é muito amiga dela, sempre saem juntas, mas ela compartilha desta nossa preocupação, aliás ela que nos encorajou a procurar orientação profissional – respondeu a esposa Sonia.
-Compreendo precisamos investigar, realizaremos nossos levantamentos preliminares, mas o maior trabalho será de segui-la e registramos e descobrirmos a sua rotina, seja ela qual for.
Acordados os valores, contrato e prazos do trabalho, iniciamos a investigação com os levantamentos que chamamos preliminares, constatamos que ela advogada formada, seu ex-marido vendedor e já casado com outra mulher, ela possuía um carro médio em seu nome, uma conta bancária bem estável, passeava com a prima, ia a eventos culturais, shows, ou seja, nada que uma pessoa com seu perfil não fizesse, era uma pessoa acima de qualquer suspeita.
Na segunda feira seguinte iniciamos o seu acompanhamento, nossa averiguada Tamara é uma mulher muito bonita, estatura média, morena e cabelos compridos muito bem ajeitados e veste-se muito bem.
Ela saiu sozinha do seu condomínio no seu carro as 12:00(colocamos com o consentimento do seu pai um rastreador veicular portátil no veículo); deixou sua filhinha na escola e dirigiu-se ao centro de São Paulo e estacionou no Shopping Light, saiu do carro e adentrou a shopping e andou por alguns minutos e entrou no banheiro feminino, nossos agentes por respeito a privacidade do investigado, e para não serem reconhecidos posteriormente, não adentram a banheiros, assim permaneceram na porta, passaram-se quase uma hora e acionamos nossa agente feminina que adentrou ao banheiro e nada da averiguada, algumas pessoas haviam deixado o banheiro, mas nenhuma com as suas características, assim nada mais nos restava ao não ser procurar na região e aguardarmos próximo ao veículo para acompanhar seu retorno, assim foi feito as 18:20 ela retornava ao carro e foi direto para apanhar a sua filha na escola e direto para seu apartamento.
Esclarecemos que todo o trabalho de seguimento em investigação, é comum os agentes perderem de vista os averiguados, por distração ou acontecimentos, mas indagados a respeito os agentes não se conformavam de perdê-la, mas assim vamos ao outro dia.
Terça feira, mesmo horário por volta do meio dia a nossa averiguada sai de casa, mas desta vez não passa na escola, vai direto ao mesmo Shopping e estaciona quase na mesma vaga, o que demonstra que segue determinada rotina em relação ao trabalho, ao descer e adentrar ao Shopping center encontra uma mulher, negra 1.60 , gordinha e vestida de maneira simples com um roupa surrada e com um aspecto de relaxo, enfim a beija e abraça cumprimentando e a menina também demonstra muita intimidade com esta moça, inclusive nossos agentes captam filmagens onde a menina chama a moça de Tia Lu; nossa averiguada deixa a filha com tia Lu e vai novamente para o banheiro, nossa equipe divide-se e concentra a operação, por minha determinação na criança e segue a tia Lu e a menina em direção a um prédio comercial, onde ambas adentram ao prédio por uma porta lateral e desaparecem em um extenso corredor, outra agente da equipe espera sozinha que a Tamara saia do banheiro, novamente saem várias pessoas e ela simplesmente desaparece.
Retornamos ao local que o carro estava estacionado e exatamente as 18:10 hs, nossa averiguada retorna em companhia da filha e novamente segue direto para a sua casa.
Vida de detetive, não é fácil, as vezes nosso trabalho é tomado de muita dúvida, nem sempre as informações se encaixam, assim pedi que a equipe retornasse ao escritório Baker Street, para passarmos a limpo os acontecimentos com as imagens e gravações antes de iniciarmos o terceiro dia de seguimento.
Recebemos os agentes em reunião e baixamos todas as filmagens e separamos todas as pessoas envolvidas, com uma boa foto buscamos nas redes sociais e descobrimos que a tia Lu, era na verdade uma diarista que trabalhava na casa da Tamara antes de ela se separar do marido. Passamos em uma tela grande todas as fotos das pessoas que entraram e saíram do banheiro do shopping depois que a averiguada entrou e nada, com certeza ela não havia saído, contudo cerca de dez minutos após nossa averiguada entrar percebemos que uma mulher com aspecto de mendigaria, deixa o banheiro ela é mais ou menos da mesma altura e vestida com trapos e roupa suja, demos um close no rosto e ficou muito parecido com a nossa averiguada, contudo as informações não eram tão precisas, mas já havíamos conseguido uma evidencia do que poderia estar acontecendo.
Quinta feira, resolvi agir diferente e a seguimos apenas pelo rastreador veicular, comprovamos a sua saída de casa e diretamente para o shopping, desta feita, coloquei a nossa agente no interior do banheiro feminino, com um uniforme de limpeza, claro que não era da empresa responsável pela limpeza, mas esperávamos que não chamasse atenção da averiguada que segue a sua rotina, colocamos também outro agente na entrada do prédio comercial para identificar a tia Lu e a menina e saber aonde elas iriam.
Nossa averiguada adentra ao banheiro, nossa agente encostada próximo a pia, percebe-a adentrando ao reservado e com uma micro câmera disfarçada capta a sua modificação ela sai do reservado como uma moradora de rua, com uma enorme mala que compunha o seu visual, sai do shopping e dirige-se para uma rua próxima, bem ao lado do prédio comercial em que havíamos perdido a tia Lu, em data anterior. Nosso outro agente ao mesmo tempo havia identificado a tia Lu com a menina que também havia trocado de roupa e encontrava a nossa averiguada em um calçadão do centro da cidade.
Elas montavam uma barraquinha e sentavam-se no chão bem em frente a um prédio público e pediam esmolas, a criança brincava inocente, inclusive a Tamara apresentava um ferimento falso de maquiagem e uma receita médica que mostravam aos funcionários que saiam do prédio público, recebendo muitas esmolas.
Estava descoberta a verdade, marcamos uma reunião com o Fabio e a Sonia para entregarmos as nossas conclusões.
Em todas as nossas operações é certo que realizamos relatórios em que discriminamos passo a passo nossas descobertas e a operação em si; teríamos de tratar com muito discernimento a entrega do relatório, pois sabíamos que a averiguada Tamara era uma pessoa geniosa que havia passado maus momentos e seria muito difícil seus pais confronta-la com a verdade descoberta.
No dia aprazado, encontramos os nossos clientes em nossa Baker Street, após os cumprimentos nos sentamos, e servindo, como sempre digo, o café da verdade, assim prossegui:
- Passo às suas mãos o resultado da nossa investigação, parte impressa e parte exposta em fotos e vídeos, explicados passo a passo. – Continuei, diante do exposto, certo é que sua filha faz o que faz, pois não está em posse de suas faculdades mentais plenas, sugerimos apoio profissional e que ao confronta-la com a verdade vocês expliquem que a apoiam, mas desejam o bem dela e da netinha, pois a verdadeira batalha começa agora, e consiste em como lidar com a verdade, quando percebemos que familiares queridos perdem o discernimento de capacidade, significa meus amigos a sua luta começa agora!
Claro que ficaram chocados, mas como nossa conclusão não deixava dúvidas, após o susto inicial compreenderam e agradeceram afirmando que antes de qualquer coisa procurariam o apoio psicológico necessário.
Para nós, na Baker Street, resta-nos a verdade e como sempre, nossos amigos dizem “A verdade sempre liberta!”

FIM.

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